“Nas
sociedades indígenas são exceções os espaços a que só tem acesso um
grupo muito específico de pessoas. Há, certamente, em várias
sociedades, locais estritamente reservados a homens iniciados, como a
casa das flautas entre os xinguanos, ou a casa dos solteiros entre os
Xavante, a que não têm acesso mulheres e crianças; ou ainda locais mais
tipicamente femininos, que os homens não frequentam habitualmente, como
certas áreas do rio, entre os Bororo, onde as mulheres se reúnem. No
entanto, comparando-se com a nossa sociedade, são, primeiramente,
poucos estes locais especializados, e aí as pessoas permanecem um tempo
relativamente curto. Em segundo lugar, são locais que ficam a pouca
distância dos outros, geralmente ao alcance da voz.”
“Os
indígenas brasileiros habitam regiões de cerrado, áreas de transição
entre floresta e cerrado e zonas de floresta primária. O que há de
comum, em todas estas sociedades, é o fato de que a organização
espacial reflete uma concepção de sociedade que é, nitidamente,
igualitária. Além deste fato, pouco há de comum entre elas; se as
regiões habitadas são semelhantes em termos ecológicos, isto não
significa que haverá soluções idênticas em termos de organização
espacial. E não poderia ser de outra forma, uma vez que o espaço
habitado e a concepção que o engendra são frutos de toda uma concepção
de mundo, que é única para cada povo.”
Uma
casa ou maloca indígena nunca é vista de maneira isolada, mas como
parte integrante de um conjunto que forma a aldeia. Os Timbira, por
exemplo, quando falam de sua própria sociedade, destacam a aldeia
(e não as casas) como a unidade fundamental para suas referências,
definindo-se como “indígenas de verdade” principalmente pelo formato
circular de suas aldeias. Os Apãniekra não consideram os indígenas
Guajajara (tupi), seus vizinhos no município de Barra do Corda (MA),
como “indígenas de verdade”, porque estes não moram em aldeias
circulares.
Nimuendaju, em 1930, já apontava que “enquanto os
Timbira possuírem a sua consciência étnica não se deixarão persuadir a
abandonar esta forma de habitar em conjunto, intimamente ligada a sua
organização social”.
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