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Entre os Cinta Larga
Nas excursões de coleta eles caminham rapidamente pela mata, mas são muitas as paradas para descanso. Atividade e repouso se alternam. Pelo caminho, observam os detalhes da vida da mata: os alimentos disponíveis, os venenos e as plantas medicinais. Sem pressa se organizam para tirar proveito do passeio. Se o objetivo é a coleta de mel, acampa-se nas proximidades da árvore a ser derrubada. Duas ou mais horas se passam até que tenham concluído o trabalho, fartando-se de mel e enchendo os vasilhames que serão levados para a aldeia. Recolhe-se o que foi localizado na ida: castanhas, o que sobrou das fruteiras, madeira para ponta de flecha, a caça abatida e tudo o mais que tenha utilidade no momento. Cada mulher carrega o produto que vai para sua casa. Os homens, as armas. Passeios semelhantes são feitos para coletar castanha; outros, mais longos, visam os poções piscosos, a reversa de taquara para flecha. Caça, pesca, coleta e consumo combinam-se durante essas expedições em arranjos e proporções variados, de acordo com a necessidade, o desejo e a oportunidade. |
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Entre os Araweté
A coleta é uma atividade importante. Seus principais produtos alimentares são: o mel, de que os Araweté possuem uma refinada classificação, com pelo menos 45 tipos de mel, de abelhas e vespas, comestíveis ou não; o açaí (Euterpe oleracea); a bacaba (Œnocarpus sp.); a castanha-do-Pará (Bertholetia excelsa), importante na época das chuvas; o coco-babaçu (Orbygnia phalerata), comido e usado como liga do urucum, e para ductilizar a madeira dos arcos; e frutas como o cupuaçu (Theobroma grandiflorum), o frutão (Lucuma pariry), o cacau-bravo (Theobroma speciosum), o ingá (Inga sp.), o cajá (Spondias sp.), e diversas sapotáceas. Destaquem-se ainda os ovos de tracajás (Podocnemis sp.), objeto de excursões familiares às praias do Ipixuna em setembro, e os vermes do babaçu (Pachymerus nucleorum), que podem também ser criados nos cocos armazenados em casa. |
Coleta
do mel - Os Araweté constroem andaimes para alcançarem o mel.
Foto: Eduardo Viveiros de Castro |
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Dentre
os produtos não-alimentares da coleta, podem-se registrar: as folhas e
talas de babaçu para a cobertura das casas, esteiras, cestos; a bainha
das folhas de inajá (Maximiliana maripa), açaí e babaçu, que servem de
recipientes; dois tipos de cana para flecha; o taquaruçu para a ponta
das flechas de guerra e caça grossa; a taquarinha e outras talas para
as peneiras e o chocalho de xamanismo; a cuia silvestre para o maracá
de dança; madeiras especiais para pilões, cabos de machado, arco,
pontas de flecha, esteios e vigas das casas, paus de cavar, formões;
enviras e cipós para amarração; e barro para uma cerâmica simples, hoje
em desuso com a introdução das panelas de metal.
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Os
Yanomami cultivam pequenas roças onde plantam banana, mandioca, algodão
e milho. Mas é da própria floresta que obtêm seu principal sustento. Os
Yanomami, como os demais grupos indígenas, não acumulam riquezas, só
colhem e caçam aquilo de que necessitam, protegendo assim a floresta de
uma pressão excessiva e dando tempo para a sua reconstrução.
Atualmente, os povos coletores são grupos minoritários. Nesses quinhentos anos de dominação foram sendo obrigados a adotar a vida sedentária e a praticar a agricultura em decorrência dos aldeamentos e das políticas colonial e imperial. Esse é o caso dos Pataxó que vivem no município de Porto Seguro e que falam apenas o português. |
Mulher Yanomami na coleta de lenha |
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Outros
grupos conseguiram resistir a essas imposições e continuam vivendo
segundo a maneira tradicional, como os Nambikuara, os Maxakali e parte
dos Pataxó Hã-hã-hãe (os Baenã).
Tradicionalmente os povos coletores viviam da caça, pesca, coleta de frutos, larvas e mel. Plantavam também alguns produtos, mas era de forma pouco sistemática e durante um certo período do ano. Na pesca usavam técnicas tradicionais, como o cerco e a tarrafa, que são atualmente ainda empregadas pelos Maxakali. Apesar dos deslocamentos contínuos, possuíam um território bastante definido. A maioria desses povos dormia no chão, sobre palha ou sobre a pele de um animal, mas alguns, como os Puri, usavam rede feita de casca de árvore. Os Nambikuara ainda hoje têm o hábito de dormir na cinza em noites mais frias, por isso ficaram conhecidos também como o povo cinza. As moradias eram sempre muito rudimentares. |
Fontes: Enawêne-Nawê, disciplinados,
solidários e alegres / Mário Moura Filho in Brasil Indígena -
Fundação Nacional do Índio - FUNAI. Ano II - nº 8 - Brasilía/DF,
Jan/Fev, 2002
Os Cinta Larga
/
Carmen Junqueira (Depto. de Antropologia, Pontifícia Universidade
católica de São Paulo) in Revista de Antropologia, Volumes 27/28.- São
Paulo : Publicação do Departamento de Ciências Sociais (Área de
Antropologia) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas -
Universidade de São Paulo, 1984/85
Araweté: O Povo do
Ipixuna / Eduardo Viveiros de Castro. - São Paulo : CEDI -
Centro Ecumênico de Documentação e Informação, 1992
Brasil Indígena: 500 anos de
resistência
/ Benedito Prezia, Eduardo Hoomaert. - São Paulo: FTD, 2000.
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