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As
populações, de acordo com
estimativas, devem ter somado cinco milhões de indígenas, no fim do
século 15. Os dados atuais variam entre 270 mil segundo o banco de
dados do Instituto Socioambiental (ISA) e 325 mil da Funai. Esse
desencontro de dados, na verdade, menos que um problema metodológico,
revela o conhecimento ainda insuficiente da diversidade cultural.
Para o sertanista Sidney Possuelo, diretor do Departamento de Índios Isolados (DII) da Funai, os arredios, como também costumam ser chamados, são “uma gente quase desconhecida, de quem se tem pouca ou nenhuma informação”. Esses isolados, diz Possuelo, “se mantiveram à parte, em relativo, estado original, desde o descobrimento, vivendo da caça, pesca, coleta e agricultura de subsistência”. Uma das características dos indígenas isolados é não manter relações sociais nem mesmo com outros grupos indígenas que possam habitar nas suas proximidades. É o caso, por exemplo, dos piriutitis, arredios que vivem em terras dos vaimiris-atroaris. Eles resistem com violência à invasão dos seus domínios e, segundo Possuelo, “quando não podem mais sustentar o enfrentamento, recuam para pontos mais inacessíveis. Dessa forma, enfrentando os invasores ou recuando ao avanço deles, conseguiram manter o isolamento ao longo de sucessivos ciclos de expansão de fronteiras econômico-sociais. Mas essa postura de isolamento tem custos. Duas das conseqüências importantes dessa atitude, explica Possuelo, são a perda de população e o nomadismo. No primeiro caso, avalia ele, perseguições violentas e sistemáticas ou contaminações infecto-contagiosas que essas populações não podiam combater reduziram o que podem ter sido nações inteiras a pequenos grupos sobreviventes. Desenraizados de suas terras originais e numericamente inferiores, analisa Possuelo, “fizeram desse sistema de vida errante uma luta diária pela sobrevivência”. Os indígenas, e isso é válido especialmente para os isolados, têm na terra uma referência primordial. Dela dependem tanto para a produção e coleta de alimentos quanto para a manutenção do complexo sistema de crenças. Com esses valores, elaboram suas mitologias e constróem suas próprias cosmologias. Assim, interpreta Possuelo, com a experiência de quase 30 anos de indigenismo, para o índio “a terra é um repositório de saber onde cada detalhe da geografia associa-se a seres míticos, antepassados, heróis culturais, e espíritos”. A partir daí, eles “explicam suas origens e realimentam suas existências”." |
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Fontes : Ocultos na Selva : 60 grupos ainda fogem do contato com os brancos / Ulisses Capazoli - Caderno Extra - O Estado de S. Paulo - 8 de dezembro de 1996
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