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Pintura
Preparo da pintura
Pintura Asurini do Trocará
Pintura Asurini do Xingu
Pintura Wayana
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Plumária

Pintura Corporal Asurini

Texto baseado no estudo feito pela antropóloga Lúcia Andrade junto aos Asurini do Trocará

Na pintura corporal, os Asurini, utilizam o jenipapo e o urucum como matéria-prima para as tintas, que são aplicadas no corpo com a mão ou com o auxílio de um talo de madeira, em caso de motivos que requerem mais detalhes, como da figura ao lado . Podem ser utilizados, também, carimbos feitos com caroço da fruta inajá, partido ao meio. O carimbo é mergulhado na tinta de jenipapo e, em seguida, aplicado sobre o corpo.


Apesar de serem as mulheres as que mais se dedicam a essa tarefa, alguns homens são considerados excelentes pintores. As irmãs costumam pintar umas às outras, e as esposas, seus maridos. As mães pintam seus filhos, quando adquirem prática, e as avós pintam seus netos.

Os dois métodos de aprendizado da técnica da pintura corporal são: a observação e o treino no corpo das crianças. Segundo Puraké, a figura à direita, usada apenas por crianças, é feita “para aprender a desenhar”. Uma pessoa pode ainda pintar a si mesma, solicitando ajuda só para aplicar o jenipapo nas partes do corpo que não alcança com as mãos.
Pintura Corporal Asurini
Pintura Corporal Asurini
Pukaré
Pukaré
Pukaré foi o único adulto que atendeu ao pedido de Lúcia Andrade: elaborou um catálogo visando fornecer um panorama bem completo das pinturas, o que lhe interessava era mostrar os diferentes motivos e suas combinações. Tanto nesse catálogo quanto nos trabalhos das crianças, a pintura é sempre representada no corpo humano. Nesse sentido, o mais interessante é que Pukaré apenas aplicou a pintura, pois os corpos foram desenhados por sua filha para que, neles, fossem aplicados os diferentes motivos.

O catálogo de Pukaré foi composto de 19 pinturas, onde aparecem 29 motivos combinados de diversas formas.
Acima, à direita, apresento duas dessas pinturas como exemplo.

Para os Asurini, o corpo, enquanto superfície para a pintura, está dividido em várias partes: rosto (onde se destaca o nariz, que pode ser pintado com um motivo diferente do restante da face), pescoço, ombros, braços e antebraços, peito, barriga, costas e pernas. Em cada uma dessas unidades pode ser aplicado um motivo diferente, contanto que se respeitem as regras de combinação. Isso é bem diverso, ao contrário, por exemplo, do que ocorre entre os Xikrin que, para a aplicação da pintura, estabelecem duas grandes divisões: a pintura facial e a do corpo, havendo uma área de transição entre a base do pescoço e o esterno que se estende até a clavícula.
A pintura corporal Asurini marca as etapas do ciclo de vida dos indivíduos e os diferentes eventos de que eles participam. É possível, observando-se a pintura que o indivíduo ostenta, identificar se ele está, por exemplo, indo participar de um ritual xamanístico ou de um ataque guerreiro. Pode-se também saber se o indivíduo é solteiro, casado ou se já tem filhos. A pintura distingue também pessoas que estejam passando por momentos ou estados especiais do restante da aldeia: as mulheres menstruadas (que não podem se pintar) das outras mulheres; os mortos dos vivos; os dançarinos (personagens centrais dos rituais xamanísticos) dos outros homens.
A pintura pode marcar o status da pessoa, do nascimento a sua morte. O morto é pintado com urucum enquanto o recém-nascido deve ser pintado com jenipapo.

As pinturas podem ser usadas tanto cotidianamente quanto em ocasiões especiais, e para cada situação existem combinações de motivos adequadas.
As ocasiões que exigem pinturas específicas são: festas na própria aldeia e nas vizinhas, visitas a outros grupos locais, cerimônias de casamento, guerras, resguardo pela morte do inimigo e o luto.

Atualmente, a pintura cotidiana praticamente inexiste. A pintura corporal não é mais utilizada para marcar as diferentes categorias da sociedade, apesar de ainda ser um instrumental disponível e armazenado para isso. Ela não foi esquecida ou perdida. No entanto, a pintura corporal é presença obrigatória nos rituais, pois nenhum indivíduo se imagina dançando sem estar devidamente pintado e ornamentado.

A pintura é utilizada atualmente para marcar três momentos ou estados de extrema importância na cultura Asurini: o ritual, luto/morte e a menstruação.
Nas ocasiões rituais, a pintura distingue os participantes do restante da aldeia. Dentro do primeiro grupo, destaca principalmente os dançarinos, aqueles que, durante as festas, entram em contato com o sobrenatural. As mulheres participam como espectadoras  e cantoras – elas cantam para seus maridos e filhos -, mas nunca dançam. Dançar é uma atividade restrita aos homens.
Dançarino Asurini
Dançarino Asurini
Os dançarinos distinguem-se dos outros participantes não por alguma pintura exclusiva, mas pelo uso da penugem do urubu-rei, que é aplicada em seus braços, pernas e no peito, utilizando-se como colante a seiva da maçaranduba.

Enquanto a pintura é executada pela esposa ou mãe na casa que é considerada de âmbito doméstico, a aplicação da penugem é feita pelos homens no espaço público-ritual, que a casa cerimonial (tekataua). O uso e aplicação da penugem pertence somente à esfera masculina.

A morte requer dois tipos de pintura. O defunto deve ter seu rosto pintado com urucum, enquanto nos vivos, nos parentes do morto, é aplicado, no corpo todo o jenipapo. Estes últimos nunca devem se pintar com urucum, que “lembra o sangue, o morto”. A pintura marca a separação entre os vivos (indivíduos socialmente ativos) e os mortos, que deixam de utilizar o jenipapo e de pertencer ao mundo social. Portanto, as mulheres menstruadas, que estão temporariamente excluídas das atividades públicas e rituais, também não devem ser pintadas com jenipapo, mas somente com urucum.
A pintura, hoje, pode não mais distinguir as diferenças internas da sociedade Asurini, mas é ainda uma marca social que diferencia os seres humanos dos seres sobrenaturais, com os quais estão em constante contato.


Fonte : A Marca dos Tempos: identidade, estrutura e mudança entre os Asurini do trocará / Lúcia Andrade in Grafismo Indígena: Estudos de Antropologia Estética / Lux Vidal (organizadora), 2ª ed. – São Paulo: Studio Nobel: FAPESP: Editora da Universidade de São Paulo, 2000.
Fotos de Lúcia Andrade

Lúcia Andrade, antropóloga, desde de 1982, desenvolve pesquisa entre os Asurini do Tocantins. Defendeu dissertação de mestrado em Antropologia Socail na USP. Atualmente é uma das coordenadoras da Comissão Pró-índio São Paulo.


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