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Urubus-Kaapor
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Ritos Fúnebres

Ritos de Couvade
(Registro de Darcy Ribeiro)
O Couvade
(É o resguardo tomado pelo pai, antes, durante ou depois do parto da mulher. Ele, e não ela, toma as precauções minuciosas de dieta, posição e movimento. A existência do filho dependerá do fiel cumprimento da couvade. Esse costume, com variadas superstições conexas, está espalhado em todo mundo. Comuníssima às tribos do continente americano, tem área geográfica muito maior. Seu ambiente é universal.
Couvade: do francês couver, latim cubare : covada, choco.)

“O tempo de resguardo do homem varia com a quantidade de carumbés (jabutis) que tenha juntado, e esse é um ponto de honra para um Kaapor. Se é preguiçoso, somente ficará os cinco dias, que é o prazo mínimo, ao sexto irá caçar. Se juntou
bastante, ficará nove dias na rede, levantando-se no décimo para caçar. Mas poderá continuar no seu resguardo por um mês ou mais.
Couvade
Casal em Couvade
No dia que levanta, vai primeiro ao rio lavar-se. Depois, para a mata, mas não abaterá caça nenhuma, ainda que as veja, o que sempre acontece. Só pode trazer jabutis brancos para casa. A morte de qualquer caça porá em perigo a vida e a normalidade do filho. Continua assim até o menino começar a sentar-se, pouco antes das festas de nominação.

A mulher só pode ir ao rio tomar banho dois meses depois do parto e continua com a mesma dieta do marido. Só que pode andar mais desenvolta, falar alto e trabalhar um pouco, enquanto ele não pode fazer nada disso, nem tomar muito sol, para não prejudicar o filho, restrições que observa até que o filho ande.

O período de resguardo que sucede ao parto, os dez primeiros dias, é chamado ninnõ. Homens e mulheres são ditos estarem nesse estado, sobretudo os homens, quando não podem receber visitas.
Duas luas depois do nascimento o pai pode .começar a caçar "animais mansos" como anta, cutia, veado e paca. Mas ainda não pode caçar jacamim e mutum, que às vezes caem gritando, o que pode fazer o filho ficar doido; quati, pela mesma razão; onça (não sei por quê); porco e tatu, para o filho não comer terra.

Após a cerimônia de nominação, o pai dá ao filho um colar de ossos de pássaros, como símbolo de que ele já tem nome. Quando começa a andar, troca esse colar por outro, feito com os dentes menores da oncinha maracajá, para que seja um bom caçador de cutia. A menina, depois da nominação, ganha um colar de penas de tucano vermelho, que equivale ao masculino de ossos de passarinho.

As relações sexuais entre os cônjuges só se restabelecem depois da nominação, mas geralmente evitam mantê-las por um ano ou mais, até que o filho cresça bastante para que a mãe possa desmamá-lo e cuidar do outro. Nesse período, a mulher se nega ao marido e, quando permite o intercurso, o repele de si, violentamente, momentos antes da ejaculação.
O intervalo médio entre um filho e outro, parece ser de, no mínimo, dois anos e meio.

Em outra aldeia indígena, Darcy relata o Couvade, com algumas variações do texto acima:

Pouco antes do mês em que espera o filho, o pai prepara o quarto onde dormem, fechando todas as goteiras com palha, e faz um buraco no chão, redondo, de um palmo de fundura por uns dois de diâmetro.
Assim que a mulher sente as dores, ela se agacha ali, sustentada pelo marido; ele a ampara pelas axilas, entrega-lhe uma garrafa para soprar até que a criança nasça, pousando naquele buraco que foi coberto de folhas de bananeira selvagem. A mãe, então, diz: 'Já pari', ao que o pai responde: 'Já pari também'. Ele vai para a rede e ela toma a criança, retira a placenta e corta o umbigo com uma tala de 'flecha'. Banha o filho ou o faz banhar por uma velha e enterra dentro do quarto mesmo a placenta e o umbigo. Então descansa a criança numa pequena rede e deita-se. Quando a criança chora, ele a leva para à mãe para ser amamentada.

O resguardo do homem é de cinco dias, ou melhor, dura até a queda do umbigo, que ele toma, enrola num pauzinho, coloca num patuá e, com ele, sai para caçar. Essa moqueca do umbigo do filho lhe dá sorte. Mais longo é o período de cuidados porque ele está muito debilitado pelo parto. Caso precise sair de casa antes dos cinco dias ou mesmo quando vai satisfazer alguma necessidade, amarra um pano à testa, 'para não ficar careca depressa', e leva uma flecha ao ombro, 'para não perder a vista'.

A mãe fica dez dias na rede sem levantar-se. Ao fim desse prazo, pode andar dentro de casa sem fazer grandes esforços; só ao vigésimo dia do parto pode sair, mas ainda por muito tempo estará fraca, não devendo fazer trabalhos pesados.
Durante o resguardo, homem e mulher só devem comer farinha seca e jabuti branco. Quando a mãe levanta, faz uma moqueca de pano bem pequena, coloca dentro o umbigo seco do filho e prende num colar de dentes e chifres de caças lavrados, que o pai dá ao filho.”

Fontes : Diários Índios: Os Urubus-Kaapor / Darcy Ribeiro. - São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data


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