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Ritos de Nominação entre os Urubus-Kaapor
(Registro de Darcy Ribeiro)
“Vão fazer uma festa destas (de nominação) aqui para "batizar" a neta mais nova do capitão. Para isso, na próxima lua, começarão a ralar mandioca e preparar os beijus que irão sendo guardados num jirau de quatro metros por um, que está aqui entre duas vigas da casa, bem em cima do meu mosquiteiro.
Todo aquele beiju, uma vez fermentado, irá encher os dois potes que ficam no outro extremo da casa. Somente convidarão o pessoal do Capitão João Arakú, que é irmão de Ianawakú e vive em águas do Maracaçumé, há dois dias daqui. Temem convidar outros por causa do sarampo que anda aí, matando gente.

No dia da festa, esta casa, de vinte por sete metros, ficará cheia de redes que, à noite, serão servidas de quanto cauim possam suportar. A mãe do batizando, com um belo pente na cabeleira e um colar de penas, novo ainda, servirá os convivas. Primeiro, uma rodada de cuias pequenas; depois, outra de uma cuia maior; afinal, uma terceira e quantas mais suportarem, em cuias de dois litros. E toda aquela gente bêbada começará a cantar, dançar e cambalear por aí.. Cada convidado virá com sua rede em que se deitará, seu terçado que descansará debaixo dele e um feixe de
flechas, tão grande quanto sua importância social. Trará, ainda, os seus melhores adornos de plumas para exibir enquanto bebe.
Mãe com seu filho
Mãe com seu filhinho
Na manhã seguinte à bebedeira, com todos ainda embriagados, é que se faz o cerimonial do batismo. A madrinha vai à casa da mãe buscar a criança e a entrega ao padrinho, que a passeia um momento na frente de todos, com os braços estendidos e tocando sobre a criança sua flautinha de tíbia de gavião real. Depois disso, se inicia a troca de flechas, cada homem troca flechas feitas por ele por outras dos que vêm de aldeias distantes. Ao fim, o dono da festa, pai do batizando, desfaz o cipó que prende seu molho de flechas e as joga no chão, convidando os presentes a levarem as que desejarem como lembrança. Assim acabam as coleções de flechas laboriosamente conseguidas, trocando as que fabrica, uma a uma, por outras nas festas de que participa. O capitão, contando isso, falou também de cocares e outros adornos plumários, de roupas, terçados, facas, miçangas que trocam ou dão.
 
Depois da noite de bebedeira, quando todos estão bem tocados pelo cauim, ali pelas oito ou dez horas da manhã, a Mamâi-rangá (Hêhyranga), que costuma ser uma irmã da mãe, vai buscar a criança e a entrega ao Papai-rangá (Hé-rú-rangã), que a toma nos braços e começa a dançar. Todos o rodeiam, então, com seus melhores adornos e com o corpo pintado. O Papai-rangá dança, tocando a flauta sobre a criança, que chora muito, até que ela adormece, tonta. Então, a entrega à mãe. O pai se levanta, então, de sua rede, onde cantava um canto especial. Está todo pintado de urucum e com seus melhores adornos. Ao menos, um grande cocar de penas amarelas de japi. Acercando-se do filho, cingirá no alto de sua cabecinha aquele cocar em forma de sol, provavelmente o ofertando a Maíra.
Todos estão cantando. Os mais embriagados, sustentados pelos amigos, gritam: Hotá-xôtei - “vou embora”. Ao que respondem, homens e mulheres: Anin, mapík, mapík - “não, sente-se, sente-se”. A mãe e as mulheres também choram e também cantam.
Enquanto o Papai-rangá dança, o verdadeiro pai pergunta, gritando com voz rouca e a toda altura:

"Ce deray pitá har-pê apapó-ríãm" (Este menino nome qual será, dançador?)

Até que o dançador, que é, muitas vezes, o mesmo que oferece a miniatura de arco e flechas à criança (irmão do pai), diga qual é o nome que levará a criança.
O batizando, que é chamado He-ray-rangá, se menino, Hê-randí-rangá, se menina, pelo Papai-rangá, e Hê-membir'angá ou Hê-memi-rangá pela Mamâi-rangá, nos mesmos casos, está todo pintado de pintinhas vermelhas. É a primeira vez que usa o urucum. Antes da nominação, só pode ser pintado com jenipapo. É notável a semelhança desse cerimonial e dos ritos ligados ao nascimento dos Kaapor com os dos velhos Tupinambá.

Fonte : Diários Índios: Os Urubus-Kaapor / Darcy Ribeiro. - São Paulo: Companhia das Letras, 1996.


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