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Na
manhã seguinte à bebedeira, com todos ainda embriagados, é que se faz o
cerimonial do batismo. A madrinha vai à casa da mãe buscar a criança e
a entrega ao padrinho, que a passeia um momento na frente de todos, com
os braços estendidos e tocando sobre a criança sua flautinha de tíbia
de gavião real. Depois disso, se inicia a troca de flechas, cada homem
troca flechas feitas por ele por outras dos que vêm de aldeias
distantes. Ao fim, o dono da festa, pai do batizando, desfaz o cipó que
prende seu molho de flechas e as joga no chão, convidando os presentes
a levarem as que desejarem como lembrança. Assim acabam as coleções de
flechas laboriosamente conseguidas, trocando as que fabrica, uma a uma,
por outras nas festas de que participa. O capitão, contando isso, falou
também de cocares e outros adornos plumários, de roupas, terçados,
facas, miçangas que trocam ou dão.
Depois da noite de bebedeira, quando todos estão bem tocados pelo cauim, ali pelas oito ou dez horas da manhã, a Mamâi-rangá (Hêhyranga), que costuma ser uma irmã da mãe, vai buscar a criança e a entrega ao Papai-rangá (Hé-rú-rangã), que a toma nos braços e começa a dançar. Todos o rodeiam, então, com seus melhores adornos e com o corpo pintado. O Papai-rangá dança, tocando a flauta sobre a criança, que chora muito, até que ela adormece, tonta. Então, a entrega à mãe. O pai se levanta, então, de sua rede, onde cantava um canto especial. Está todo pintado de urucum e com seus melhores adornos. Ao menos, um grande cocar de penas amarelas de japi. Acercando-se do filho, cingirá no alto de sua cabecinha aquele cocar em forma de sol, provavelmente o ofertando a Maíra. Todos estão cantando. Os mais embriagados, sustentados pelos amigos, gritam: Hotá-xôtei - “vou embora”. Ao que respondem, homens e mulheres: Anin, mapík, mapík - “não, sente-se, sente-se”. A mãe e as mulheres também choram e também cantam. Enquanto o Papai-rangá dança, o verdadeiro pai pergunta, gritando com voz rouca e a toda altura: "Ce deray pitá har-pê apapó-ríãm" (Este menino nome qual será, dançador?) Até que o dançador, que é, muitas vezes, o mesmo que oferece a miniatura de arco e flechas à criança (irmão do pai), diga qual é o nome que levará a criança. O batizando, que é chamado He-ray-rangá, se menino, Hê-randí-rangá, se menina, pelo Papai-rangá, e Hê-membir'angá ou Hê-memi-rangá pela Mamâi-rangá, nos mesmos casos, está todo pintado de pintinhas vermelhas. É a primeira vez que usa o urucum. Antes da nominação, só pode ser pintado com jenipapo. É notável a semelhança desse cerimonial e dos ritos ligados ao nascimento dos Kaapor com os dos velhos Tupinambá. |
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