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Ritos de Iniciação Masculina entre os Karajá
A Festa da Casa Grande
(Passagem da adolescência para a vida adulta)
Os Karajá pensam três diferentes ritos para introduzir os meninos na casa de reunião dos homens, a casa dos ijasò ou casa das máscaras, isto é, no mundo masculino, proibido às mulheres e crianças. Tais ritos são realizados para que os meninos tornem-se gradativamente homens maduros.
Os ijasò conformam uma categoria de seres cosmológicos benfeitores que vivem em sua maioria nas profundezas da água, alguns no céu, e, uma vez na aldeia, abrigam-se na casa onde se agrupam os homens. Essas entidades são representadas por máscaras de palha que se completam por capacetes de penas.

A identificação de cada um dos ritos de iniciação está ligada ao tipo de entidade cosmológica que intervém como principal protetora e/ou iniciadora dos meninos. O ideal é que passem pelos três, porém, submetendo-se a um deles, a criança já é considerada iniciada.
Os aõni (“os habitantes do interior da Casa Grande”), compõem o grupo de entidades que atuam durante o período da Festa da Casa Grande, modalidade de iniciação mostrada nesta exposição, que se realiza anualmente nas maiores aldeias.

Existentes no céu, na terra e na água, os diversos seres fantásticos do tipo aõni são identificados a animais, a coisas de natureza desconhecida, a membros de sociedades indígenas vizinhas ou a brasileiros.
A Festa da Casa Grande
Os Jovens solteiros, engalados, desempenham inúmeras ações rituais.
Conversam e dançam, possuindo características parecidas aos seres vivos dos quais provém seu nome, comportam-se de modo contraditório: a maioria é aliada e protetora da comunidade, mas alguns são assombrosos, ameaçadores, especialmente para mulheres, crianças e iniciandos.
Porém, mais do que um conjunto de seres sobrenaturais, a palavra aõni implica numa forma de existência ligada à prática de habilidades e poderes que lhe são próprios. Assim, os homens Karajá não os representam simplesmente: eles estão aõni.
O tempo de aparecimento dos ijasò leva um ano. À medida que transcorre o conjunto cerimonial da Casa Grande e vão chegando os diversos aõni para habitá-Ia, eles gradativamente desaparecem, cessando completamente no início da fase principal da festa e voltando somente no seu final.
Os meninos são formalmente separados das mulheres e crianças quando atingem a puberdade.
A Festa da Casa Grande
Representam diversos aõni, os principais sobrenaturais que interferem no decorrer da festa.
Os meninos são formalmente separados das mulheres e crianças quando atingem a puberdade. A partir do momento em que passam por um dos três ritos de iniciação - seja pelo rito da Casa Grande ou um dos outros - são chamados jyrè (ariranha), animal preto, rápido e combativo, qualidades, entre outras, importantes em um jovem guerreiro. Formam um grupo especial, tendo os corpos pintados inteiramente de preto e cabelos curtíssimos, à semelhança do animal.
Como jyrè. os meninos permanecem na fase de margem cerca de um ano e meio, desenvolvendo o processo de aprendizagem nos assuntos e segredos dos homens em locais culturalmente definidos: a praça, os caminhos masculinos e a Casa das Máscaras, dirigindo-se às casas de suas mães para comer e dormir. Aqueles, cuja passagem é celebrada pelo rito da Casa Grande, começam essa fase confinados por sete dias em seu interior, saindo somente em determinados momentos.
Nesse período os meninos estão sujeitos a muitos perigos, principalmente de entidades malfeitoras, sendo eles mesmos vistos como perigosos, dado que eventualmente podem contar às mulheres conhecimentos exclusivamente masculinos que lhes estão sendo transmitidos. Devem ficar quietos, calados e submissos aos demais homens, prestando-lhes inúmeros favores. Aprendem técnicas de caça, pesca, canto, dança, desenho, trançados para máscaras e outros fins e, em especial, de contato e representação de seres sobrenaturais.
O final do processo de iniciação é exteriorizado por meio das características da pintura corporal: de início, completamente preta, nos últimos meses recebe aberturas no pescoço, ombros, braços e pernas. Passam então a chamar-se weryrybò (
os recém-iniciados e/ou jovens solteiros) e poderão participar plenamente da próxima Festa da Casa Grande na situação de mais jovens membros dos grupos de praça masculinos e com relações já diferentes com o mundo feminino.
A Festa da Casa Grande é o mais importante cerimonial dos Karajá. Estende-se por seis meses, a partir de  agosto/setembro, alcançando seu auge no último mês, a fase culminante, durante a época das chuvas, em março/abril. À aldeia-sede da festa afluem convidados de diferentes pontos do território Karajá, são convidados também autoridades da Funai (
Fundação Nacional do Índio) e dos governos estadual e municipal.
Os pais dos meninos possuem os maiores encargos no tocante à parte material da festa, entre outros, devem fornecer alimentação para os homens envolvidos, do local e visitantes, e ainda presentear parentes homens e mulheres que, na sociedade Karajá desempenham o papel de “defensores” das crianças desde a mais tenra idade contra maleficios de várias ordens. Eles protegerão seus meninos durante o ritual.
As festividades são dirigidas pelo chefe cerimonial da aldeia, o “pai do povo”, o “dono da festa”, que carrega nas mãos uma comprida faca de madeira emplumada com penas vermelhas de arara, o símbolo da liderança, e ainda uma varinha mágica com a qual levanta e abaixa os níveis cosmológicos do mundo Karajá. Os homens que delas participam representam mortos dos quais descendem, e entidades diversas, ora boas, ora más.
Na etapa de preparativos da fase final da festa, são confeccionados dois artefatos especiais para os iniciandos: um banquinho zoomorfo pelo pai ou um tio afim e uma esteira de palha pela mãe ou tia materna, ambos decorados. No banquinho, colocado sobre a esteira, sentará o menino no decorrer de algumas cerimônias e, principalmente, no momento da passagem.
No lado sul da praça masculina os homens constroem a Casa Grande, que empresta seu nome à festa, e, defronte a esta, no lado norte, a Casa Pequena. A primeira, centro do grupo de homens e do cerimonial, passará a ser habitada pelos “mortos” do local; a segunda, pelos de fora, representados pelos homens da outra aldeia que, com os da sede, desempenharão os principais papéis rituais.
 Desenvolvem-se também os trabalhos de busca de um grande tronco de árvore (geralmente Landi) no mato alagado e a instalação do mesmo, como mastro ritual, no meio da praça masculina. O risco de acidentes é atribuído à atuação de seres aõni inimigos e “mortos”, representados por homens de outras aldeias, que interferem nessas tarefas. Em contrapartida, os homens da aldeia sede agem como aõni benfeitores. Tais preparativos, que duram de duas a três semanas, são entremeados por refeições coletivas de homens, por lutas, invocações e representações de entidades benéficas como os ijasò, que desaparecerão a partir desse momento, e os aõni, os protagonistas principais.
À medida que avançam os ritos, procede-se à construção de uma espécie de corredor coberto de palha, à semelhança de um comprido abrigo temporário de caça, entre as casas Grande e Pequena. Nele estão espécies vegetais - que representam espíritos de animais - associadas a grupos específicos de homens, junto às quais sentam-se para receber encargos do chefe cerimonial.
A Casa Grande converter-se-à no espaço em cujo interior os meninos serão simbolicamente introduzidos no universo masculino para o longo aprendizado. Mas isso somente ocorrerá depois que chegarem todas as entidades cosmológicas que aí habitam: os aõni e os “mortos” do local e de outras aldeias, representados pelo conjunto de homens.
A última entidade a chegar é o jyrè aõni. Isto é sintomático, porque com ele identificam-se os meninos conduzidos à Casa Grande, conforme já mencionado, para o glorioso momento da passagem.
No último dia da festa, bem cedo, depois de longa noite de ritos intensos nos quais passaram situações aflitivas, os meninos são abraçados e erguidos pelos benéficos seres ijasò, que voltaram. Isso é feito para que cresçam fortes e rapidamente. A seguir são levados por seus parentes protetores, sobre os ombros dos homens - contornando as casas Grande e Pequena e a Casa das Máscaras em sentido horário - ao interior da Casa Grande. Então, no lugar dos homens, sentam-se nos seus banquinhos, marcando simbolicamente sua admissão no universo masculino e sua entrada na Casa das Máscaras, o local de reunião dos homens. Logo depois presenciam o flechamento de duas miniaturas em cera: um instrumento xamânico em forma de disco com um furo central e um veado, por homens que usam arco e flecha minúsculos. Esse rito ressalta virtudes que todo jovem deve pretender: o aprendizado xamânico e habilidade na caça. Nesta ocasião, recebem conselhos dos velhos. As mulheres locais retornam às suas casas e os visitantes partem.
No dia seguinte, na Casa Grande, retiram-lhes seus enfeites de menino. Seus cabelos são cortados de modo a ficar somente uma fina faixa volte ando a cabeça, acima das orelhas, com uma tonsura na porção posterior do crânio, aparando-se também os cabelos de seus parentes protetores homens e mulheres: seus corpos são revestidos com tinta preta de jenipapo (
Genipa americana): é nesse momento que cada um se transforma num jyrè aõni. Depois, envoltos, hoje em cobertores, são apresentados, mediante o disfarce, de casa em casa, à aldeia, protegidos pelos seus defensores, homens e mulheres, que recolhem donativos de alimentos.
Os ritos iniciatórios finalizam com caçadas, atualmente simbólicas, realizadas durante a semana de reclusão na Casa Grande. Os animais de caça relacionam-se às espécies vegetais, espíritos dos animais, e aos grupos de homens distribuídos junto a elas no corredor montado para a festa.
A Festa da Casa Grande termina cerca de duas semanas depois, com a dispersão dos últimos seres aõni, alguns violentos. As cerimônias finais centralizam-se no enterramento, na praça, do perigoso Worosylabiè, o “avô dos mortos”, que atemoriza os jyrè. A entidade é representada por uma horripilante cabeçona de cabaça, com ralos cabelos, de origem humana, e parte das feições executada com a cera do alvo circular e do pequeno veado utilizados no rito do flechamento.

Fonte : A Plumária Indígena Brasileira no Museu de Arqueologia e Emologia da Usp / Sonia Ferraro Dorta & Marília Xavier Cury - São Paulo : Editora da Universidade de São Paulo: MAE / Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2000 - (Uspiana-Brasil 500 anos)


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