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Lendas Região Norte
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Andorinha
Entre os indígenas caxinauá, de raça pano, no Acre, há uma lenda da txunô, andorinha, conhecida literalmente em todo o Brasil. “Um menino, ba-kö, divertia-se na roça, perseguindo uma andorinha e conseguiu agarrá-la. A txunô disse que não a matasse que ela o levaria para o céu onde viviam todos os antepassados do menino. O ba-kö aceitou, e a andorinha mandou-o segurar-se às suas penas e subiu. Entrou para o céu, encontrando o irmão de seu pai, sobrinhos, amigos. Contou sua história a um tio e este lhe mostrou legumes, casas bonitas e o chão coberto de areia branca e fina. Lá de cima vêem tudo. O tio do menino fez comida e o ba-kö comeu e satisfez-se. E ficou vivendo no céu. (Resumo, 4801-4850, J. Capistrano de Abreu, Rã-Txa hu-ni-ku-î, Rio de Janeiro, 1941). Aru Casta de pequeno sapo, que vive de preferência nas clareiras do mato e acode, numeroso, logo que se abre um roçado. Onde aru não aparece a roça não medra. Aru transforma-se oportunamente em moço bonito, empunha o remo e vai buscar a mãe da mandioca, que mora nas cabeceiras do rio, para que venha visitar as roças e as faça prosperar com o seu benéfico olhar. Somente as roças bem plantadas e que agradam à mãe da mandioca prosperam e tem chuva oportunamente. Aru foge das que não são conservadas bem limpas, e que são invadidas das ervas daninhas, e quando desce com a mãe da mandioca lhes passa a frente sem parar. (Stradelli, Vocabulário). Brandão de Amorim (Lendas, 293) colheu em São Gabriel, Rio Negro, creio que entre os indígenas aruaco, embora narrada no idioma nheengatu, A lenda de Aru Chefe indígena, novo, forte, insaciável de prazer sexual. Aru encontrou, pescando na ilha da Palha, uma moça maravilhosamente bonita e estuprou-a. A moça que era Seusi, filha da lua e mãe das plantas, abortou imediatamente um pequenino sapo, chato e feio, que matou e com o sangue pintou o tuxaua e lhe presenteou com uma membi (flauta), feita com fios do seu cabelo. Aru voltou para a aldeia, tocando a membi encantada, e seus companheiros, apavorados de ouvir o canto da lontra (irara, mustélidas, Tayra barbara) tão perto do povoado, fugiram, precipitando-se no rio Negro. O tuxaua acompanhou-os, pulando também. Quando voltaram à tona d’água, “todos eles eram já cururu, para ficarem sendo neste mundo arus-cururus.” Cobra-Grande O mito mais poderoso e complexo das águas amazônicas. Mágica, irresistível, polifórmica, aterradora. “A Cobra-Grande, tem a princípio, a forma de uma sucuriju ou uma jibóia comum. Com o tempo adquire grande volume e abandona a floresta para ir para o rio. Os sulcos que deixa à sua passagem, transformam-se em igarapés. Habitam a parte mais funda do rio, os poções, aparecendo vez por outra na superfície. Durante nossa estadia em Itá, houve ocasiões em que nenhum pescador atreveu-se a sair para o rio à noite, pois em duas ocasiões seguidas foi avistada uma Cobra-Grande... pelos olhos que alumiavam como tochas. Foram perseguidos até a praia, somente escapando porque o corpo muito grande encalhou na areia. Esses pescadores ficaram doentes do pânico e medo da experiência que relatavam com real emoção.” (Eduardo Galvão, Santos e Visagens, 98-99, Brasiliana, 284, S. Paulo, 1955). Eduardo Galvão confirma a Cobra-Grande tornar-se navio encantado. Misabel Pedrosa disse-me que a Cobra-Grande mora debaixo do cemitério do Pacoval, na ilha de Marajó (1964). Cobra-Maria Animal fabuloso do rio Solimões, Amazonas, cobra gigantesca, com poderes mágicos. É uma variante local de Cobra-Grande, a Mboia-Açu. É uma tapuia encantada em uma cobra. Vejamos: a filha de um pajé deitou-se levar pelo amor de um emigrante, concebendo dois filhos gêmeos: José e Maria. Quando o velho pajé soube do caso, calou-se e, quando as crianças nasceram, matou a filha e atirou-as na água, morrendo José; Maria foi protegida da Iara e hoje faz tudo quanto quer; é muita coisa na água. Aparece sempre à noite. Os seus olhos são como os de Anhangá, duas tochas de fogo. Não tem ouvido falar numa cobra enorme, que derruba barrancos, afunda canoas, encalha navios e tem feito muitos valentes agonizar de fraqueza? Pois é a Cobra-Maria. ( Quintino Cunha, Pelos Solimões, 322, Paris, sem data). Companheiro do Fundo “Entre os sobrenaturais que se acredita habitar o fundo dos rios e dos igarapés ou dos poções, estão os companheiros do fundo, também chamados caruanis. Habitam um reino encantado, espécie de mundo submerso. O reino é descrito à semelhança de uma cidade, com ruas e casa, mas onde tudo brilha como se revestido de ouro. Os habitantes desse reino do fundo dos rios têm semelhança com criaturas humanas; sua pele é muito alva e os cabelos louros. Alimentam-se de uma comida especial que, se provada pelos habitantes deste mundo, os transforma em encantados que jamais retornam do reino. Os companheiros do fundo agem como espíritos familiares dos pajés ou curadores. A concepção desses companheiros é algo de vago para o leigo. Alguns acreditam que sejam botos, considerados extremamente malignos. Outros distinguem entre companheiros e botos, classificando estes últimos em uma categoria especial de seres encantados. Uma ou outra concepção lhes atribui realidade, existência. No primeiro caso, as criaturas tomam a forma de boto, mas, no fundo, têm a semelhança de humanos. Iapinari Filho de mulher virgem, Iapinari nasceu cego e recobrou a visão, esfregando o sumo dos olhos do cancão (Cianocorax cyanoleucus). Era grande tocador de membi, tornando-se famoso. Ficaria cego, se a mãe descobrisse a outra pessoa o segredo que lhe dera a luz dos olhos. Apaixonada por um moço, a mãe de Iapinari contou o segredo, e o filho voltou a cegar, precipitando-se no rio, onde se tornou um rochedo. A mãe, moças e rapazes da tribo que seguiram Iapinari, também ficaram encantados. Lenda do rio Uaupés, rio Negro, Amazonas. A pedra Iapinari fica entre as cachoeiras de Tucunaré e Uaracapuri. Mãe-da-Lua / Urutau / Jurutau (Caprimulgidae) Ave noturna, seu canto melancólico e estranho, lembrando uma gargalhada de dor, cercou-a de misterioso prestígio assombrador. Está rodeada de lendas superstições, espavorindo a gente do campo, personalizando fantasmas e visagens pavorosas. Só quem haja ouvido o grito da mãe-da-lua pode medir a impressão sinistra e desesperada que ele provoca durante a noite. A jurutauí, um pouco menor, mas também chamada mãe-da-lua (Nyctibius jamaicensis), tem aplicação curiosa contra a sedução sexual. José Veríssimo registrou: “A pele da ave noctívaga jurutauí preserva as donzelas das seduções e faltas desonestas. Conta-se que antigamente matavam para isso uma destas aves e tiravam a pele que, seca ao sol, servia para nela assentarem as filhas, justamente nos três primeiros dias do início da puberdade. Parece que esta posição era guardada por três dias, durante os quais as matronas da família vinham saudar a moça, aconselhando-a a ser honesta. No fim desses dias, a donzela saía curada, isto é, invulnerável à tentação das paixões desonestas, a que seu temperamento, destarte modificado pudesse atrair (Cenas da Vida Amazônica, 62, Lisboa, 1886). Veríssimo adianta que esse cerimonial fora abolido e que se limitada a varrer as penas de urutauí ou jurutauí. A guarani Nheambiú transformou-se em urutau por ter morrido seu amado Quimbae; noutra lenda (do rio Araguaia, entre os carajás) Imaeró se mudou nessa ave, porque Taina-Can (estrela-d’alva) preferiu sua irmã Denaquê para esposa. Mani Em tempos idos, apareceu grávida a filha dum chefe selvagem, que residia nas imediações do lugar em que está a cidade de Santarém, Pará. O chefe quis punir no autor da desonra de sua filha a ofensa que sofrera seu orgulho e, para saber quem ele era, empregou debalde rogos, ameaças e por fim castigos severos. Tanto diante dos rogos como diante dos castigos a moça permaneceu inflexível, dizendo que nunca tinha tido relação com homem algum. O chefe tinha deliberado matá-la, quando lhe apareceu em sonho um homem branco, que lhe disse que não matasse a moça, porque ela efetivamente era inocente, e não tinha tido relação com homem. Passados os nove meses, ela deu à luz uma menina lindíssima e branca, causando este último fato a surpresa não só da tribo como das nações vizinhas, que vieram visitar a criança, para ver aquela nova e desconhecida raça. A criança, que teve o nome de Mani e que andava e falava precocemente, morreu ao cabo de um ano, sem ter adoecido e sem dar mostras de dor. Foi ela enterrada dentro da própria casa, descobrindo-se e regando-se diariamente a sepultura, segundo o costume do povo. Ao cabo de algum tempo, brotou da cova uma planta que, por ser inteiramente desconhecida, deixaram de arrancar. Cresceu, floresceu e deu frutos. Os pássaros que comeram os frutos se embriagaram, e este fenômeno, desconhecido dos índios, aumentou-lhes a superstição pela planta. A terra afinal fendeu-se, cavaram-na e julgaram reconhecer, no fruto que encontraram, o corpo de Mani. Comeram-no e assim aprenderam a usar a mandioca. (134-135, O Selvagem). Ver Lendas da Mandioca, Região Centro-Oeste. Mani - Menina de cujo corpo nasceu a mandioca, Manihot utilissima Pohl., euforbiácea, base da alimentação brasileira. O nome mandioca proviria de Mani-óca, casa de Mani. É lenda da raça tupi. A lenda de Mani foi registrada por Couto de Magalhães em 1876. |
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