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Religiosidade no Brasil
Primeira Missa
O Brasil nasceu católico. No dia 26 de abril de 1500 é celebrada a primeira missa:
O dia amanheceu claro e bonito naquele domingo depois da Páscoa, chamado também domingo da Pascoela. O capitão propôs a frei Henrique, o superior dos frades, que celebrasse uma missa em terra firme. Aquele encontro tão importante precisaria ter as bênçãos de Deus.
O lugar escolhido foi um recife próximo à saida de um rio, mas um tanto afastado da terra para que os portugueses não fossem incomodados pelos tupiniquins. Certamente eles não iriam entender aquela cerimônia religiosa.
Logo de manhã, os marinheiros foram para lá, construíram um altar e levantaram uma enorme bandeira da Ordem de Cristo, branca, com uma cruz vermelha no centro.
Frei Henrique e os frades que o acompanhavam estavam muito contentes, assim como o capitão Cabral. A nova terra nascia para os domínios do rei de Portugal, com as bênçãos de Deus e à sombra da cruz de Cristo.
Se o capitão achava que a missa celebrada não teria a presença dos tupiniquins, estava enganado. Logo que o altar começou a ser construído, vários deles chegaram com suas canoas, curiosos, para ver o que estava acontecendo.
A missa teve início por volta das dez horas, com a presença dos padres e de um grande número de soldados e tripulantes das caravelas. No final da celebração, frei Henrique falou sobre a missão de Portugal de levar o evangelho para aqueles povos que não conheciam o Deus dos cristãos.
Antes de terminar o sermão, um grupo dos indígenas, achando que aquilo era uma festa, começou a dançar ao som de maracás e de uma espécie de trombeta de bambu. Para eles, festa tinha de ter música e dança.
Incomodados com a inesperada participação dos nativos, os padres fizeram sinal para que suspendessem a música. O sermão precisava ser concluído. Resignadamente os tupiniquins acomodaram-se num canto e esperaram até o fim da cerimônia. Logo depois dirigiram-se para a praia, pois sentiram que aqueles estrangeiros não eram de muita festa.
Terminada a missa, os portugueses deixaram o recife e foram também para a terra firme. Para surpresa geral, encontraram uma multidão de nativos, com o corpo pintado de vermelho, como nas grandes festas que celebravam. A pintura, para aquele povo, era uma espécie de roupa. Não apenas isso. Era também uma maneira de comunicar seus sentimentos, pois os desenhos e as cores variavam de acordo com a ocasião: festa, guerra ou morte.
A nova terra despertava uma curiosidade cada vez maior nos visitantes... 1

A toponímia brasileira se iniciou pela obediência ao dia oblacional. A expedição de 1501, capitaneada por Gaspar de Lemos, batizava os principais acidentes geográficos no litoral brasileiro de acordo com os santos do calendário do dia. Cabo de São Roque, 16 de agosto de 1501; cabo de S. Agostinho, 28 de agosto; rio de São Roque, 29 de setembro; rio São Jerônimo, 30 de Setembro; rio São Francisco, 4 de outubro; rio das Virgens, 21 de outubro; baía de Todos os Santos, 1º de novembro; rio de Santa Luzia (talvez rio Doce), 13 de dezembro; cabo de São Tomé, 21 de dezembro; baía do Salvador, 25 de dezembro (Natal); Angra dos Reis porque avistada no Dia de Reis, 6 de janeiro de 1502; ilha de São Sebastião, em 20 de janeiro; São Vicente, 22 de Janeiro e ainda o cabo de Santa Maria, a 2 de fevereiro, Candelária.

Vieram os Jesuítas com a missão de catequisar os indígenas. Cabia também à Companhia de Jesus, na colônia, a vigilância sobre seus habitantes, de forma a mantê-los dentro dos estritos preceitos da religião católica, controlando os seus modos de vida e suas crenças, tanto combatendo as práticas tidas por pecaminosas como a penetração das seitas heréticas. Já no final do século XVI os jesuítas se ressentiam da liberalidade dos costumes demonstrada pelos colonos, que respiravam com alívio, uma vez longe da Inquisição, de seus atos de fé e queimadeiros. A presença estrangeira no Brasil de protestantes, como ingleses, holandeses e franceses, e mais concretamente, a tentativa de Villegaignon de fundar uma colônia no Rio de Janeiro com franceses calvinistas, tornava real a ameaça ao monolitismo católico que se pretendia assegurar na terra. 2

Durante quase todo o século XVI a colônia esteve escancarada a estrangeiros, só importando às autoridades coloniais que fossem da fé ou religião católica. Handelmann notou que para ser admitido como colono do Brasil no seculo XVI a principal exigência era professar a religião cristã: “somente cristãos” - e em Portugal isso queria dizer católicos - “podiam adquirir sesmarias”, continua o historiador alemão, “restrição alguma no que diz respeito à nacionalidade: assim é que católicos estrangeiros podiam emigrar para o Brasil e aí estabelecer-se [...]”. Os originários de terras protestantes ou já eram católicos ou aqui se converteram. 3

Com a vinda dos africanos escravizados para o Brasil, dos princípios do século XVI aos meados do XIX, vieram também suas crenças e deuses, que tiveram que ser camuflados para preservá-os da imposição da religião católica, chamado sincretismo.
“Alguns senhores permitiam que os negros dançassem e cantassem aos sábados, domingos ou dias de festas. Já nas cidades, os batuques e canjerês eram proibidos. Temia-se que os agrupamentos de escravos degenerassem em movimentos subversivos. As únicas festas autorizadas eram as de cunho cristão: a de Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos pretos, as congadas e outras do mesmo gênero.

Nossa Senhora do Rosário

Coleta para a manutenção da igreja do Rosário, por uma irmandade negra. (ilustração de Debret)

É notório que a devoção dos negros católicos, no Rio de Janeiro, contribuiu, só com suas esmolas, para a construção de várias igrejas. A mais extraordinária foi a iniciada no largo de São Francisco de Paula [...] Em todas as irmandades religiosas, a necessidade dessas coletas criou o costume de, durante a festa do padroeiro da igreja, instalar dentro do templo e perto da entrada uma mesa, presidida pelo irmão mais graduado, assistido por vários confrades e um secretário, espécie de tesoureiro encarregado de registrar as cotizações voluntárias de todos os confrades ou de suas famílias. 4

O cristianismo, entretanto, não passava de uma capa exterior a recobrir tradições e práticas africanas. Nas zonas rurais prevaleciam o culto doméstico, as práticas familiares. O senhor puxava a reza ajudado pelos escravos. O negro aprendia as preces cujo sentido lhe escapava, repetindo-as mecanicamente. A aceitação do cristianismo era, em geral, puramente exterior. O escravo assistia à missa e adorava ao mesmo tempo a Xangô e Ogum. Confundiam-se na prática as tradições africanas e cristãs.
A intromissão de elementos culurais africanos no catolicismo possibilitou a sua preservação sob uma aparência cristã. Só raramente conseguiram os negros manter intactas suas tradições. Isso só foi possível nos núcleos urbanos, onde eles se agrupavam em confrarias. Os maometanos foram os que mais resistiram à penetração do cristianismo. Concentraram-se, na sua grande maioria, no Nordeste, onde chegaram a manter alguns templos. Mas as condições que a escravidão criava impossibilitavam a obediência às prescrições do culto, e mesmo os cultos idôneos sofreram um processo de sincretismo acentuado.” 5
Noutros casos, por contágo e pressão social, rapidamente se impregnou o escravo negro, no Brasil, da religião dominante. Aproximou-se por intermédio dela da cultura do senhor; dos seu padrões de moralidade. Alguns tornaram-se tão bons cristãos quanto os senhores; capazes de transmitir às crianças brancas um catolicismo tão puro quanto o que receberiam das próprias mães.

Nota-se em certos momentos e espaços da sociedade colonial corajosa ousadia por parte dos heterodoxos, fossem eles cristãos-novos, protestantes, adeptos das religiões tribais ou de feitiçarias de inspiração européia, todos eles negligentes ao risco de serem enquadrados nos artigos das Constituições do Arcebispado da Bahia ou, pior ainda, cair nas malhas do tribunal da Inquisição, foram muitos os cuidados para manter ocultas as crenças e rituais que pudessem despertar a repressão da justiça civil, episcopal e inquisitorial.
Era no secreto do lar, a portas fechadas e com toda a cautela, por exemplo, que os cristãos-novos continuavam a praticar a Lei de Moisés e algumas tradições sincréticas herdadas de seus antepassados hebreus. 6


1. Terra à vista: Descobrimento ou invasão? / Benedito Prezia – 2 ed. Reform. - São Paulo : Moderna, 2002 – (Coleção Viramundo) – Livro doado por Benedito Prezia
Ilustração de Delphim
2. Brasil História - Texto e Consulta: 1 Colônia / Antonio Mendes Jr., Luiz Roncari e Ricardo Maranhão - São Paulo: Editora Brasiliense, 1979
3.
Casa Grande e Senzala / Gilberto Freyre - São Paulo: Círculo do Livro S. A., s/ data
4.
Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil / Jean Baptiste Debret. - São Paulo: Circulo do Livro, sem data
5. O Pensamento Brasileiro sob o Império in O brasil Monárquico, v. 5: reações e transações / por Francisco Iglésias … [et al.] ; introdução geral de Sérgio Buarque de Holanda, 8ª ed. - Rio de Janeiro ; Bertrand do Brasil, 2004 - (História Geral da Civilização Brasileira; t. 2; v 5)
6. Cotidiano e Vivência Religiosa: entre a capela e o Calundu / Luiz Mott in
História da vida privada no Brasil 1: cotidiano e vida privada na América portuguesa
organização Laura de Mello e Souza. - São Paulo: Companhia das Letras, 1997

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