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Para Liana Trindade (Conflitos sociais e magia),
os negros, principalmente após a abolição da escravidão, viviam em
condições de marginalidade social, procurando recursos de adaptação de
sua cultura na sociedade urbana. Há uma tentativa de dar significado a
um universo social sem significado, interpretando-se e construindo-se
um referencial mítico que apontasse para a resolução dos dramas sociais
e humanos vividos pelos afro-descendentes. Isso ocorreu, pois alguns
fenômenos sociais no pós-abolição, tais como já observamos,
determinaram a desarticulação dos sistemas de crenças tradicionais:
proletarização das camadas negras e mulatas, introdução de imigrantes,
principalmente de italianos em São Paulo, que portavam crenças trazidas
de suas regiões de origem, concorrência com esses imigrantes no mercado
de trabalho, precariedade da ocupação profissional ameaçada pelas crises econômicas e pela ideologia do branqueamento. Dentro deste contexto, a Macumba é vista como uma resposta a esta situação. Para ela, a Macumba é composta por crenças e ritos que se relacionam por meio de um processo sincrético, significando a predominância de interpretação de uma forma de conhecimento em relação a outras formas. |
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Foto denominada: "Macumba e pipoca" sem referência do autor. | Existem elementos bantos, tais como: A incorporação dos antigos “calundus”, quando o espírito fala e dança ao som de atabaques, o fechamento do corpo, a cerimônia de evocação dos espíritos, a magia dos nós, o jogo adivinhatório de búzios, o uso de ervas, o sacrifício de animais e as cerimônias sob as árvores; enquanto que o kardecismo fornece o ninho cultural que possibilita a incorporação das divindades africanas através da incorporação. Convém lembrar que os cultos de tradição banto existiram desde o início do século XX, como forma de reconstrução de heranças africanas no universo social urbano, muitas vezes, operando fora da hegemonia branca. A incorporação de Exus na Macumba se dá pela concepção banto de espíritos familiares ou associados à natureza e pela influência do kardecismo. Há uma diversidade de espíritos de origens diferenciadas: espíritos de negros e espíritos de caboclos, caracterizando tipos sociais definidos. O culto aos Caboclos é uma prática banto de reverência aos ancestrais, no caso, da terra, onde os bantos se estabelecem. Os Caboclos são concebidos como legítimos ancestrais da terra brasileira. “Adquirindo a qualidade de espírito, na proporção que constitui uma categoria social consagrada na memória coletiva das camadas populares, os caboclos possuem, como os demais espíritos da tradição banto, qualidades sociais e da natureza”. A construção da entidade mítica Preto-velho configurou-se durante o período pós-abolicionista, que, como mito, evoca a memória da escravidão. As entidades são interpretadas segundo o núcleo de significações da filosofia ou da religiosidade banto, organizadas em falanges, que compõe as várias linhas, que hoje se encontram presentes na umbanda. Destacam-se na formação da macumba três grandes linhas, como a autora relata: A Linha dos Exus e Pombas-gira, A linha dos Caboclos, A Linha dos Pretos-velhos. | ||
Os afro-brasileiros de tradição banto começam a transformar a Macumba, tornando-a Umbanda. Podemos observar dois movimentos: um de ressignificação, que permitiria a legitimação das suas práticas religiosas, e um outro de resistência, no sentido de que há uma manutenção de diversos elementos da antiga macumba, mas que aparentemente são explicitados e concebidos de outra maneira, a partir da lógica vigente: “...os terreiros foram pouco a pouco assumindo estatuto de religiões, mas para tanto se abrigaram sob a rubrica do espiritismo, cujas práticas eram mais facilmente aceitas como religiosas do que aquelas de origem africana, marcadas pela idéia de magia” ( Paula Montero, Religião, pluralismo e esfera pública no Brasil) |
Fontes: Sociedade e Cultura – Grande Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo: Nova Cultural, 1995.
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