Terra Brasileira
Brasil Folclórico
folclore
modus Transporte
artesanato culinária
literatura Contos lendas mitos
música danças religiosidade tipos ofícios contatos
Loja

 Tipos Regionais e Trajes
 Indígenas do litoral
 Bandeirantes
 Africanos
 Região Norte
 Região Nordeste
 Região Centro-Oeste
 Região Sudeste
 Região Sul
 Uniformes



Os Bandeirantes
A historiografia brasileira, e mais particularmente a paulista, procurou sempre apresentar unilateralmente o colono vicentino. De homens reais, em determinadas situações concretas e movidos por injunções humanas e históricas, foram transformados em super-homens. Bravos e valentes; corajosos e intrépidos; desbravadores do sertão que não temeram a ferocidade do indígena; alargadores das fronteiras nacionais que romperam o meridiano de Tordesilhas e jogaram mais para oeste as frentes de colonização espanhola; homens dispostos à aventura que percorreram quase todo o atual território brasileiro, etc. Assim, partindo de determinados feitos, fizeram-nos os construtores da nação, atribuindo-lhes propósitos e intenções que não eram as suas e nem o poderiam ser, pois não haviam ainda sido colocadas historicamente. Não nos cabe; entretanto, de modo algum negar as qualidades e as dificuldades enfrentadas pelo colono vicentino. O tom épico com que pintaram estes moradores, que caberia mais numa obra literária que histórica, deve, no entanto, ser explicado pela situação peculiar de São Vicente e não como se tentou fazê-lo, pelas suas qualidades pessoais. Sem dúvida foram homens de coragem e valentia, porém, as pederneiras, os canhões, o melhor preparo militar e a astúcia em fazerem aliados tornavam-nos superiores aos indígenas.  Bandeirante
Domingos Jorge Velho de Benedito Calixto (1853-1927)
Museu Paulista

Estes lutavam para defender suas terras, e a si mesmos, enquanto aqueles procuravam escravos. Ultrapassaram Tordesilhas e destruíram as reduções jesuíticas espanholas; deveríamos perguntar qual ideal escondia mais ambições: o império temporal cristão ou a expansão do império português. Correram, enfim, o território brasileiro, mas em busca de valores mercantis como escravos, pedras e metais preciosos, pouco deixando relatado acerca do que viram das terras, dos homens e dos animais, como fizeram outros viajantes.
Bandeirante
Ciclo da caça ao indígena de Henrique Bernadelli
Museu Paulista

A maior parte das representações atuais dos paulistas do século XVII, seja na pintura, seja na escultura, mostra-os como uma espécie de Pilgrim Father, em seu trajo, e com altas botas de montar. Mas, na verdade, eles, ao que parece, muito pouca coisa usaram além do chapelão de abas largas, barbas, camisa e ceroulas. Caminhavam quase sempre descalços, em fila indiana, ao longo das trilhas do sertão e dos caminhos dos matagais, embora muitas vezes levassem uma variedade de armas. Sua vestimenta incluía, igualmente, gibões de algodão, espessamente acolchoados, e que se mostravam tão úteis contra as flechas ameríndias que em 1683 sugeriu-se fossem usados na guerra contra os belicosos negros de Angola, do outro lado do Atlântico. O elemento feminino não deixava de estar presente, nas bandeiras maiores, pois embora os paulistas não levassem as esposas legais em suas expedições, muitas vezes faziam-se acompanhar de mulheres ameríndias, como cozinheiras e concubinas."

O povoamento da Capitania de São Vicente iniciou-se no litoral. Seus primeiros centros de povoamento constituíam-se em redutos de náufragos, degredados e fugitivos que procuravam suas costas. A expedição de Martim Afonso fundou suas primeiras vilas: São Vicente e Santo André da Borda do Campo. Ainda durante o século XVI outras povoações foram-se formando no litoral, como Santos, em terras doadas a Brás Cubas, dotada de porto superior a São Vicente, Santo Amaro e, ao sul, o povoado de Conceição de Itanhaém que aparecia "com o intuito de fazer convergir para ali a gente que andava dispersa por aquele litoral". O povoamento alastrara-se também para o interior, tendo como ponto importante a fundação em 1554 do colégio de São Paulo no campo de Piratininga, que funcionou como núcleo de povoado: "A Santo André da Borda do Campo," nota Jaime Cortesão, "segue-se São Paulo do Campo, o que representa na ordem urbana o superlativo que vai da posse superficial, da Borda, à posse plena, sem limitação, do Campo."

Não contando com o pau-brasil, a primeira atividade a desenvolver-se foi o tráfico de escravos, como era conhecido o porto de São Vicente, "porto de escravos", antes da fundação da vila. Com a introdução da cana-de-açúcar, houve a montagem dos primeiros engenhos; em 1549, Hans Staden notava como a ilha de São Vicente se distinguia pelos sítios que eram sedes de engenhos de açúcar.
Não tardou, porém, que o capital mercantil se desinteressasse de São Vicente e se orientasse às melhores condições que lhe ofereciam outras capitanias, como Bahia e Pernambuco.

Conseqüentemente a Capitania de São Vicente ficou relegada a um plano econômico inferior e o homem então preferiu o planalto. Galgou a Serra do Mar e aí se estabeleceu, desenvolvendo uma policultura de subsistência baseada no trabalho forçado do indígena capturado no sertão. Visava assegurar uma base material que lhe garantisse a sobrevivência. Assim, firmou-se definitivamente no planalto, de onde partiu, depois, em todas as direções, na arrancada sertanista em busca de indígenas, de pedras e metais preciosos.
Fora prática constante do vicentino a venda de escravos indígenas, já que era mercadoria fácil de transportar pela serra do Mar até ao litoral, ou pelo Paraíba até ao Rio de Janeiro, onde era vendida. Essa prática encontrava a oposição dos jesuítas. Já em 1592 levantou-se a população da vila de São Paulo contra uma provisão que mandava entregar as aldeias indígenas aos jesuítas.
Os vicentinos souberam aproveitar as lutas dos tupiniquins com os carijós e tupinambás para ampliar o tráfico com os prisioneiros feitos nessas guerras, que "desciam para S. Vicente, então conhecido como 'boca do sertão' e 'porto dos escravos'". Incursionavam os colonos até às regiões de São Francisco do Sul e Laguna, despovoando-as de indígenas.

À medida que São Paulo de Piratininga ia substituindo Santo André como ponto avançado de colonização do sertão, atiçava-se a resistência indígena à ocupação de suas terras. A reação de carijós e tamoios fazia com que se organizassem, a partir de São Paulo, expedições contra eles. Eram as chamadas "lutas defensivas" ou "guerras justas", que acabavam por "limpar" de indígenas as terras ao mesmo tempo em que justificavam sua escravização. Inúmeras arremetidas contra eles foram feitas nesse período pelos vales do Paraíba, Tietê, Moji Guaçu e alto do Paranapanema. Jerônimo Leitão, capitão-mor da Capitania de São Vicente (1571-1592), destacou-se na luta contra os tamoios no Rio de Janeiro e contra os tupiniquins e carijós no vale do Tietê. Em 1581, rumando em direção sudoeste, atravessou o Paranapanema e chegou até à região do Guayrá, onde realizaria novas incursões nos anos seguintes, de lá trazendo as primeiras levas de indígenas.
Coincidiu com o governo de D. Francisco de Sousa, chegado ao Brasil em 1599, a intensificação da atividade das bandeiras, centradas em São Paulo. Data daí o início das grandes bandeiras, organizadas e disciplinadas com divisões militares, ouvidores do campo, escrivões, capelães e roteiros estabelecidos.
guaikuru
Combate de bandeirantes de Mogi das Cruzes com Guaikuru de M. J. Botelho Egas
Museu Paulista
Apresamento
O caçador de escravos de Jean Baptiste Debret
MASP - Museu de Arte de São Paulo

Apresamento
Apresamento de indígenas de Jean Baptiste Debret, século XIX
Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo

O termo bandeira era de início aplicado às companhias de milícia portuguesas, que pelo seu regimento deveriam consistir de 250 homens. Não valeu aqui, entretanto, essa norma, pois recebia esse nome desde uma expedição de quinze ou vinte homens até outras que reuniam centenas de membros.

A maioria, em qualquer bandeira, consistia em auxiliares indígenas, escravos ou livres, usados como batedores de caminhos, coletores de alimentação, guias, carregadores, e tudo o mais, enquanto os paulistas brancos e mestiços formavam o núcleo. "Com o correr do tempo os paulistas tornaram-se tão habilitados nas artes do sertão e dos matagais quanto os ameríndios já o eram, ou mesmo, segundo alguns contemporâneos, 'como as próprias feras'. Essas bandeiras percorriam freqüentemente o interior durante meses e mesmo anos a fio. Às vezes, plantavam mandioca em clareiras das florestas e acampavam nas redondezas até a época da colheita. Dependiam, entretanto, principalmente, da caça, dos peixes que obtinham nos rios, de frutas, ervas, raízes e mel silvestre. Usavam o arco e a flecha tanto quanto os mosquetes e outras armas de fogo, e, a não ser pelas armas que levavam, punham-se de viagem com a bagagem notavelmente leve.

As Reduções Jesuíticas e os ataques dos bandeirantes

Por volta de 1610 foram fundadas pelos jesuítas espanhóis as primeiras reduções na Província de Guayrá, a de Loreto e a de Santo Inácio, às margens do rio Paranapanema, no atual Estado do Paraná. Não demorou que outras surgissem, e já, em 1628, treze delas agregavam mais de 100 mil indígenas.
Os bandeirantes paulistas, que por esse período corriam o sertão em busca de indígenas para vendê-los como escravos, logo colocaram em perigo essas reduções. As incursões contra elas eram particularmente rentáveis, pois podiam capturar de uma só vez grande quantidade de homens já habituados ao trabalho e civilizados pelos jesuítas e obter por eles um preço muito maior que por outros indígenas ainda não "domesticados". Os primeiros assaltos às Reduções de Guayrá deram-se por volta de 1619 e 1623, pelas bandeiras capitaneadas por Manuel Preto. A partir de 1628 eles tornaram-se freqüentes. Manuel Preto e Antônio Raposo Tavares, em 1629, voltaram a atacar Guayrá, numa bandeira em que iam 900 mamelucos e 2 000 indígenas liderados por 69 paulistas. Nessa investida destruíram inúmeras reduções, aprisionaram os indígenas e destruíram a cidade castelhana de Vila Rica. Entre 1628 e 1631 estimam-se em 60 000 os índios que foram aprisionados dessas reduções, que iam sendo destruídas e reduzidas a cinzas.
Missão de São Miguel - RS
São Miguel das Missões, RS - Foto de Ione Bonfim, gentilemnte cedida pela autora
Os Guarani participaram como mão-de-obra na construção e muitas vezes eram os autores das esculturas e dos frisos decorados.
São Miguel das Missões guarda a mais preservada missão jesuítica do Brasil. As ruínas do
povoado, fundado no século 17, foram declaradas Patrimônio Mundial pela Unesco em 1983
Com os constantes ataques bandeirantes, tomava-se impossível aos jesuítas manter-se na região, o que fez com que abandonassem essas frentes avançadas de colonização (1632) e fossem estabelecer-se, levando consigo mais de 10 000 indígenas, na atual província argentina de Missões, entre o alto Paraná e o alto Paraguai. Essa retirada possibilitou a Portugal a incorporação de extensas terras antes tidas como da coroa espanhola. Infrutuosos foram aí, entretanto, os esforços de evangelização, levando os jesuítas a procurarem a outra margem do rio Uruguai e se fixarem na região do atual Rio Grande do Sul e Uruguai. Como não pudessem manter-se livres do assédio vicentino, trataram de organizar eles próprios a resistência a essas investidos que se sucediam, armando os indígenas das reduções. Domingos de Torres, chamado de "mestre dos índios no manejo das armas de fogo", um veterano das guerras da Flandres, instruiu militarmente os guaranis, e quando, em 1641, uma grande bandeira composta por mais de 400 paulistas e milhares de indígenas atacou novamente na zona compreendida entre os rios Uruguai e alto Paraná, sofreu uma derrota fragorosa em Mbororé.
O próprio Raposo Tavares, derrotado em Mbororé, dirigiu-se para os Andes, na infrutífera busca de minas de prata. Poucos anos depois, voltou à sua normalidade o tráfico de escravos da África, com a retomada pelos portugueses dos mercados de negros que haviam caído em mãos dos holandeses. Perdia-se, desse modo, o sentido das bandeiras de apresamento, que contribuíram largamente para a expansão do império português na América e renderam para os bandeirantes cerca de 300 mil indígenas escravizados, segundo afirmações dos padres jesuítas Francisco Dias Taño e Antônio Ruiz de Montoya, entre 1614 e 1639.

Líderes das reduções guaranis do Tape:
Nicolau Nhenguiru - Cacique de Caaró, que derrotou a bandeira de Domingos Cordeiro em Caaçapaguaçu, em 1639.
Inácio Abiaru - Cacique da redução de La Cruz, que, após a morte de Nhenguiru, assumiu o cargo de Capitão-Geral de Guerra e Justiça Maior. Derrotou a bandeira de Jerônimo Pedroso de Barros na batalha de Mbororé, em 1641.
Antonio Uracatu e Matias Beramini - Cacique da redução de Yapeju, que, em 1657, derrotaram a bandeira de Manoel Preto e Francisco Cordeiro.

Fontes : Brasil História - Texto e Consulta: 1 Colônia / Antonio Mendes Jr., Luiz Roncari e Ricardo Maranhão - São Paulo: Editora Brasiliense, 1979
Brasil Indígena: 500 anos de resistência / Benedito Prezia, Eduardo Hoomaert. - São Paulo : FTD, 2000
Brasil Revisitado : palavras e imagens / Carlos Guilherme Mota, Adriana Lopez. - São Paulo, Ed. Rios, 1989


Bandeirantes

Deixe seu comentário: Deixe seu comentário:
Correio eletrônico Facebook
Livro de visitas Twitter