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Se,
na realidade, por um lado, não existe um tipo único de caboclo
amazônico é porque, num ou noutro ponto, sempre houve uma
predominância de um elemento étnico no caldeamento, por
outro, a
seleção de tipos humanos característicos somente seria
possível
se estabelecer em função dos gêneros de vida e horizontes de
trabalho encontrados em áreas geograficamente distintas. Neste último
caso, de acordo com um seguro observador - Moacir Paixão e Silva - fora
das zonas do Baixo Amazonas e do Rio Branco, de onde emergem os tipos
bem diferenciados do vaqueiro
de Marajó e do vaqueiro
dos campos do Rio Branco e excetuadas,
outrossim, as
áreas das altas cabeceiras onde se processam a exploração da
seringueira e a coleta da castanha, segundo normas de trabalho
peculiares, o que existe é uma vasta zona de comportamento humano
unificado. O fato se verifica tanto no Madeira quanto no
Solimões, tanto no Tocantins quanto no Tapajós ou no rio Negro. E, na
opinião do mesmo autor, (Sobre
uma Geografia Social da Amazônia,
divulgação do EIP, Manaus, Amazonas, 1943, p. 61), com a pesca e o
pequeno plantio, a coleta florestal, a vida nos postos de lenha, nos
jutais, "aí é onde se encontra a Amazônia genuinamente nativa, curiosa
naquela socialização, cujas maneiras são ainda as do bugre manso. É
zona de influência da economia do caboclo".
Esse caboclo tem um tipo étnico semelhante ao do índio. Pigmentação epidérmica, a barba diluída, certa obliquidade dos olhos, sobriedade dos gestos. Onde quer que atue e seja qual for a atividade a que se dedique, o caboclo amazônico traduz sempre a influência atávica na região. Antes de tudo é um nômade. Preferencialmente é um coletor, um pescador ou um caçador. Uma vez ou outra dedica-se à minguada cultura de subsistência, aproveitando ora uma nesga de terra limpa pelo fogo, ora certa porção do solo fértil das vazantes. Planta, então, aqui e ali um pouco de milho e de feijão, alguma batata, uns quantos legumes. |
![]() Caboclo Amazônico - Ilustração de Percy Lau |
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Perto
da cabana rústica, com dois puxados, de cobertura de palha, soalho e
paredes de palmeira "paxiúba", um mandiocal e um bananal completam o
quadro da moradia. As vezes, um pequeno cercado próximo abriga algumas
tartarugas fluviais. "Com
o seu profundo senso de acomodação geográfica, ilustrou M. P. e Silva,
o caboclo seleciona a foz dos igarapés, o ângulo das confluências, as
margens mais bucólicas para ali levantar sua habitação, fazer vida
calma e sem ambições, saqueando o rio para comer, dormindo
preguiçosamente quatorze horas por dia, dançando, rezando nas ladainhas
e enchendo a sua paisagem familiar de curumins distróficos e
analfabetos. Aproveita o rio como linha de transporte e comunicações,
serve-se da sua dinâmica de enchentes e vazantes para estabelecer o
equilíbrio do plantio e da colheita, para o trabalho da criação e da
pesca, da indústria extrativa e das viagens de mercadejamento. Nas
regiões inundáveis, a Amazônia originalízou-se por tipos sociais e
econômicos que são um reflexo da sua razão fluvial. A maromba,
as
jangadas, a morada palafita, o flutuante, o banheiro, o gurupapé,
representam elos dessa cadeia em que o homem se ajusta gostosamente.
Ali as formas de aculturação procedem, quase em totalidade, daquela
disciplina que o rio caracteriza". |
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