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Tipos Regionais do Sudeste
O Espia
Quando se aproxima a época em que a tainha sobe a costa, em busca de águas quentes, para a desova, vai uma agitação intensa pelos núcleos de pescadores do litoral paulista a nordeste de Santos. A aproximação do cardume é acompanhada com toda atenção, e a notícia corre de praia em praia, aprontando os pescadores o material para a tarefa que se avizinha. Sob os ranchos, entre o "jundu", no fundo das estreitas enseadas ou na ponta das praias, consertam-se as redes, revistam-se as tralhas, examinam-se chumbeiros, alcalas, cortiças e remos. Descansam as canoas nos roletes, abrigadas em cobertas junto ao mar.

Enquanto todos esses preparativos se processam, numa faina coletiva que caracteriza a população litorânea e que a irmana, toda entregue que fica aos misteres de uma atividade coletiva em que cada um tem o seu papel e a que nem mesmo as mulheres escapam, - há um elemento que já está em função e função importante, de cujo exato desempenho dependerá o êxito do cerco que os pescadores farão. É o "espia". Do alto de uma "costeira" favorável, ou de um ponto elevado da praia, onde possa avistar desde longe as águas oceânicas, sua vigilância não tem pausas. Olhos postos no mar, como que fareja a aproximação do cardume. A agudeza de sua observação é impressionante. Antes que qualquer outra pessoa perceba, está acompanhando os movimentos dos peixes, prenunciando mesmo a sua aproximação, sentido o seu rumo e até avaliando o seu número. Dia após dia, noite após noite, aguarda o aparecimento do cardume e, quando verifica a sua chegada nas águas próximas pertence-lhe o sinal que dá começo à intensa atividade que consome a população local.
O Espia
O Espia - Ilustração de Percy Lau
Tarda, às vezes, o alarme. É que o peixe, não raro, demora dias e dias em frente à praia, ora se aproximando, ora se afastando, reunindo-se ou se dispersando, entretanto pelas águas profundas ou retornando à tona. Um aviso fora de tempo, um lançamento precipitado, um atraso qualquer, - e a tarefa estará ameaçada de malogro. Pertence ao "espia" e constitui a parte difícil e de responsabilidade pessoal de sua tarefa, a escolha do momento propício, quando as operações devem ser desencadeadas. Atento, acompanha todos os movimentos do cardume e, depois de prolongada espera, decide da convocação do pessoal da praia e do início da atividade do cerco das tainhas. Soa, então o búzio e o seu ruído ecoa pelas praias e encostas vizinhas. O pessoal acorre destinando-se cada um ao lugar que lhe cabe e apanhando o material de seu trabalho. A população toda corre para a praia, saindo dos caminhos encostas e ranchos escondidos no "jundu". Rolam-se as canoas praia abaixo. Formam-se as canoas na conformidade das redes que levam, embarcam as tripulações. E avançam, vagarosamente, ao impulso de remadas pausadas e silenciosas, enquanto canoas menores, dos "aparadores", vão acompanhando, prontos a completar a tarefa dos redeiros.

Mais atento do que nunca, o "espia" está acompanhando e comandando todos esses movimentos. De seu posto, com sinais de braço, desenvolve a manobra dos barcos. Há um momento em que o cardume se dirige para o lugar favorável ao cerco. A flotilha está pronta e deixou o peixe entre ela e a praia. A distância em que se encontra o peixe, a densidade de sua reunião, sua posição em relação à costa, condicionam o lançamento das redes. O sinal do "espia" é decisivo. Lançam-se as redes, com os barcos aproximados e ela é estendida, depois, pelo afastamento deles, até fechar-se, com as pontas sobre a praia. Está pronto o cerco que fica complementado pelas tarefas miúdas. Não está senão iniciada a tarefa do "espia", embora a sua parte principal esteja feita. Cabem--lhe ainda pormenores do cerco, até começar a puxada para a praia.

Acabada a pescaria, quando todos se aprestam para a partilha do peixe, reunidos em volta dele, na praia, esse "general dos cercos de tainha", como o denominou Carlos Borges Schmidt, tem a sua paga. De acordo com a sua responsabilidade e a importância do seu trabalho, seu quinhão é maior.

Fonte :   Espia / Nelson Werneck Sodré in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970



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