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Se
bem que nem todos os garimpeiros sejam profissionais, isto é,
possuidores de conhecimentos especializados, porque há os oportunistas
atraídos pelos grandes resultados das extrações, pode-se dizer, de modo
geral, que no trabalho, o garimpeiro é auxiliado pela mulher, a qual
participa com valentia, de todas as suas alegrias e de todos os seus
infortúnios. Casos há, porém, em que o garimpeiro vive isolado nos
garimpos, qual "moderno troglodita", como encontrou Herman Lima, por
exemplo, nas lavras diamantinas da Bahia.
Geralmente a norma de trabalho do garimpeiro é a mesma, postas de lado algumas modalidades locais, consoante a região considerada e o regime dos cursos d'água. Odorico Costa fixou um flagrante dos processos habituais entre os garimpeiros do Tijuco: "Verificada a existência de "informações" ou "satélites" dos diamantes, os garimpeiros iniciam a exploração, ou retirando o cascalho do leito do rio, por meio de escafandros ou por meio de mergulhadores de longo folego "sequistas" ou, ainda, por meio de grupiaras e monchões, abertos nas margens e nos terrenos vizinhos às margens". "O cascalho é levado em três peneiras de crivos diferentes, em escala descensional, sendo a primeira peneira denominada "suruca". Em regra geral, o equipamento do garimpeiro consta da alavanca, enxada, carumbé, bateia de baco e peneiras, reduzindo-se a 5 tipos os serviços mais usuais: grupiara ou grapíara, às vezes também denominado itaipava; desmonte, catamento, leito de rio e grunas. |
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Garimpeiros - Ilustração de Percy Lau |
Nos
garimpos, como nos do Tijuco (Diamantina, Minas Gerais) a vida do
garimpeiro oscila com a chegada da estação das chuvas. Verifica-se
assim, um êxodo periódico não só para os rios mais acessíveis ao
trabalho de garimpagem, como para os garimpos em que os monchões -
buracos abertos até um quilômetro das margens - permitem a prática
normal dos serviços da exploração diamantífera. Transformador impenitente da paisagem, o garimpeiro logo ao chegar ao local escolhido para garimpar, inicia sua atividade "erosiva" realizando a "virada", isto é, a retirada do cascalho do leito do rio, até o ponto, às vezes, de desviar-lhe o curso. E no trabalho incessante do desmonte das margens, chega a cavar poços e realizar prodígios de destruição nas grupiaras, depósitos de cascalho em nível elevado, das quais o garimpeiro distingue duas sortes: a grupiara de serra e a grupiara de córrego. Como modelador da paisagem cultural, o garimpeiro edifica povoações improvisadas, dispostas ao longo dos terrenos diamantíferos e à margem dos rios, ou a meia encosta dos vales. Tais povoados denominados "corrutelas" são compostos de casas feitas de pau-a-pique, sem nenhuma idéia de solidez, quase sempre, e em geral cobertas de palha de coqueiro, de folhas de buriti ou indaiá. A "corrutela" é um aglomerado de habitações que se transforma às vezes, com milhares de habitantes, numa cidade humilde, mas organizada. No garimpo, milhares de homens encontram trabalho. Os próprios roceiros dispõem de mercados e negociam os seus produtos. Além disso, os carretos de cascalho são quase sempre grandes fontes de renda. Naturalmente, nem todos os aglomerados de garimpeiros se apresentam da mesma maneira, havendo alguns que se notabilizam por certa "alma" particular, bem própria, consoante a disparidade dos elementos que as constituem. Os garimpeiros do rio das Garças, afluente da margem esquerda do Araguaia, em Mato Grosso, são, por exemplo, de um nomadismo incorrigível, pelo que escreveu o Dr. Galeno Americano do Brasil. |
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Excetuadas
as grandes pedras, toda a produção dos garimpos é adquirida nos
próprios locais de garimpagem pelos capangueiros, encarregados de casas
compradoras do Rio de Janeiro, e quase sempre residentes nas cidades
grandes situadas nas proximidades, como Uberlândia, o grande centro
comprador de diamantes, em relação à região diamantífera do Triângulo
Mineiro e sul de Goiás.
Pela imprevidência e gênero de vida que leva. o garimpeiro é um personagem análogo ao seringueiro da região amazônica. Enquanto não é favorecido pela sorte, na "roleta imensa" do garimpo, vive permanentemente infusado, isto é, endividado, tão cheio de compromissos para com os negociantes das proximidades, como o seringueiro em face da ganância do regatão. Pois que quase sempre é meia-praça, trabalha por conta de uma terceira pessoa, consoante o regime da parceria nos achados; em época de dificuldade, além do compromisso das meias, chega a dar, às vezes, todo o resto do seu direito, em penhor a outrem. A vida nos garimpos é regulada por um código não escrito, mas conhecido e por todos respeitados. Neles, os garimpeiros tanto vivem em ranchos quanto em choças, ou em barracas de lona, morando aos grupos de dois ou mais indivíduos. O trabalho se prolonga por vezes além de 10% horas de serviço. Na composição da população garimpeira, entram brasileiros de todos os rincões e de todos os matizes, numa predominância absoluta em relação ao elemento estrangeiro, acaso nela existente. Joviais e cavalheirescos ao seu modo, os garimpeiros são por outro lado, amantes da música e das danças. Nas horas de descanso, quando o sol já desapareceu, o trabalho cede lugar às diversões e às canções dolentes, tocadas e às vezes cantadas em coro. Enquanto isso, ao som dos violões e do gemido plangente das sanfonas, a noite desce. A corrutela então mergulha na escuridão apenas interrompida pela luz bruxuleante das lamparinas. |
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