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O choco ou couvade colocava o homem em situação de receber, por “doente”, atenções que doutra maneira caberiam só à mulher, com a qual ele se identificava pelos resguardos e cuidados especiais que se impunha: “o marido se deita logo na rede, onde está muito coberto [...] em o qual lugar o visitam parentes e amigos, e lhe trazem presentes de comer e beber, e a mulher lhe faz muitos mimos [...]” (Gabriel Soares, Roteiro Geral). Sociologicamente talvez represente a couvade o primeiro passo no sentido de reconhecer-se a importância biológica do pai na geração. É preciso considerar o fato de raramente haver conexão essencial para o selvagem entre o intercurso sexual e a concepção. A noção de paternidade ou maternidade, noção antes sociológica, pela qual se estabelecem a descendência e família entre os primitivos, corresponde em geral ao conhecimento apenas aproximado, vago da interferência de um ou outro sexo no processo de geração. Entre várias tribos do Brasil dominava a crença de nascer o primeiro filho da interferência de um demônio chamado uauiara com forma de um peixe, o boto, considerado o espírito tutelar dos demais peixes. (Couto de Magalhães, O Selvagem, Rio, 1876). Parece , entretanto, que a noção mais geral, ao tempo da descoberta, era a referida por Anchieta de ser o ventre da mulher um saco no qual o homem depositasse o embrião. Von den Steinen, aprofundando-se no estudo da couvade, foi dar com a noção, entre os indígenas do Brasil central, de ser o homem quem deita o ovo ou os ovos no ventre da mulher, chocando-os durante o período da gravidez. O ovo é identificado com o pai; de tal modo que a palavra “ovo” e a palavra “pai” em Bakairi têm igual derivação. O filho não é considerado senão a miniatura. No ventre da mãe só faz desenvolver-se como a semente na terra. Daí supor o selvagem que os males que afetam o pai possam afetar, por efeito de magia simpática, ao filho recém-nascido. Daí resguardarem-se em geral os dois: pai e mãe; ou exclusivamente o pai. Entre os indígenas: Jean
de Léry
(1880), ouviu uma vez uns gritos de mulher. Foi ver o que se passava,
acompanhado de outro francês, e descobriram os dois que os
gritos eram de uma mulher parindo. O marido servia de parteira: foi
ele quem Léry viu cortar com dos dentes o umbigo do menino;
ele quem o francês surpreendeu achatando o nariz do bebê
em vez de afiná-lo, segundo o costume europeu; lavando e
pintando de encarnado e preto o recém-nascido. Este era depois
colocado numa pequena rede de algodão ou metido nuns “pedaços
de rede que chamam tipóia” e amarrado às costas ou
aos quadris da mãe. Darcy Ribeiro, na primeira expedição em 1950, entre os Urubus-Kaapor, registra o Nascimento e resguardo: "Pouco
antes do mês em que espera o filho, o pai prepara o quarto onde
dormem, fechando todas as goteiras com palha, e faz um buraco no chão,
redondo, de um palmo de fundura por uns dois de diâmetro. |
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