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Carregadores
Os cangueiros ou carregadores de cangalhas têm seu nome ligado às cordas de gancho que se usam no Brasil para suspender as cargas, chamadas cangalhas, nos animais de carga.
Esses carregadores empregam realmente essas mesmas cordas para suspender os fardos a uma enorme vara que carregam aos ombros. O método, considerado com razão o melhor para o transporte de móveis pesados e frágeis, cômodas, pianos, espelhos, é ainda empregado no transporte das pipas de aguardente e das caixas de açúcar.
O peso do fardo determina o número de carregadores, que varia de dois a oito. Andam a passos miúdos e sempre obliquamente, de modo a compensar os efeitos do balanceio da carga, a qual, sem essa precaução, levaria consigo os homens e lhes impediria de movimentarem o pé. Aliás, o refrão, cuja cadência regula seus passos, adverte de longe cocheiros e cavaleiros distraídos a que respeitem sua marcha penosa.
Cangueiros
Cangueiros
Registro de Debret - Início do século XIX no Rio de Janeiro.
O transporte mais simples e mais curto, feito por dois homens, paga-se de dezesseis a vinte vinténs. Um escravo cangueiro deve trazer diariamente a seu amo, sob pena de castigo, de seis a oito francos. Encontram-se esses carregadores em certas praças da cidade; vê-se de longe a enorme vara com anéis de ferro nas extremidades e em cuja ponta se amarra a corda cuidadosamente enrolada.
A cena se passa no interior da Alfândega, perto dos armazéns em que são descarregados os líquidos.
Carregando os mais pesados fardos e por isso mesmo obrigado a descobrir, durante as horas mais quentes do dia, a parte superior do corpo, o cangueiro põe certa faceirice em dobrar em torno dos rins o resto de sua indumentária. Orgulhoso de sua força, não esquece de enfeitar a cabeça com qualquer boné velho de uniforme militar, a fim de realçar a originalidade de sua vestimenta; mas é principalmente na peça principal, no peitilho estofado, que o luxo dos enfeites aparece. Essa indispensável almofada, que atenua a pressão da vara no ombro do carregador, é sempre ornamentada com uma franja velha de seda mandada ajustar cuidadosamente num albardeiro. Não satisfeito ainda com esses trapos, não raro de cores variegadas, acrescenta ele um pedaço de espelho, botões de metal, e pequeninas conchas.
A cabaça de aguardente e o saquinho de couro para o dinheiro completam o equipamento do granadeiro da Alfândega, título esplêndido com que o cangueiro foi distinguido entre os demais negros de ganho.
O grupo principal, que representa o transporte de uma pipa de aguardente. Apresenta um quadro da variada indumentária que cresce ao pitoresco das cenas movimentadas do interior da Alfândega.
Embora pareça estranho, que neste século de luzes se depare ainda no Rio de Janeiro com o costume de transportar enormes fardos à cabeça dos carregadores negros, é indiscutível que a totalidade da população brasileira da cidade, acostumada a esse sistema que assegure o remuneração diário dos escravos empregados nos serviços de rua, se opõe à introdução de qualquer outro meio de transporte, como seja, por exemplo, o dos carros atrelados. Com efeito, a inovação comprometeria dentro de pouco tempo, não somente os interesses dos proprietários de inúmeros escravos, mas ainda a própria existência da maior classe da população, a do pequeno capitalista e das viúvas indigentes, cujos negros todas as noites trazem para casa os vinténs necessários, muitas vezes, à compra das provisões do dia seguinte. É esse meio de transporte, geralmente empregado, que enche as ruas da capital desses enxames de negros carregadores, cujas canções importunam freqüentemente o estrangeiro pacato, entregue a ocupações sérias nas suas lojas. Desde alguns anos, entretanto, um regulamento policial proíbe aos negros, nas ruas, exclamações demasiado barulhentas.
Carregadores
Carregadores: Carruagens e  móveis prontos para embarque
Registro de Debret - Início do século XIX no Rio de Janeiro.
O desenho representa os detalhes do transporte de uma carruagem desmontada, cujas partes separáveis estão, como as demais embrulhadas em esteiras de palha, precaução usada para o embarque de objetos dessa natureza mandados do Rio de Janeiro para outras partes do Brasil. Esse sistema de embalagem, que resguarda suficientemente do sol e da umidade, é pouco dispendioso e representa a vantagem de, pela sua flexibilidade, tomar pouco espaço nas embarcações.

A esteira de palha, fabricada no Brasil do mesmo modo que as palhaças pelos jardineiros em França, é também o leito habitual do negro e do indigente. Vende-se a cinco vinténs cada uma, mas comprando-se por dúzias o preço é apenas de quatro vinténs.
O número de carregadores representados nesta cena dará uma idéia da quantidade de negros empregados na mudança de uma casa rica, em que cada móvel é carregado isoladamente. O transporte se efetua numa única viagem, a fim de tornar a fiscalização mais fácil. Por isso mesmo, quando se depara com semelhante cortejo, pode-se ter a certeza de que a longa coluna é sempre precedida por um ou dois criados brancos e comandada por um intendente, ou feitor, que a acompanha a cavalo. Esses fiscais, sempre de chicote na mão, mantêm severamente a ordem durante o trajeto.

Finalmente, chegando ao seu destino, a caravana, inundada de suor, se coloca em uma única fila. Aí cada negro aguarda, de mãos abanando, o pagamento de seus serviços. Para evitar discussões, recebem todos salário idêntico, fixado em três a quatro vinténs para um longo trajeto e em dois vinténs para um trajeto dentro da cidade. Depois de pago, o negro é obrigado a se retirar, a fim de evitar qualquer pretexto para voltar à fila. Formam-se então alguns grupos de manhosos solicitadores de indenizações, mas estas são atendidas com ameaças de chicotadas, e os negros fogem correndo e rindo eles próprios do infeliz resultado de suas injustas reclamações. 
Carro é o nome genérico de várias carruagens do Brasil; aplica-se aqui a uma humilde carreta de quatro pequenas rodas cheias, de dezoito polegadas de diâmetro, construída com simplicidade e inteiramente de madeira. Constitui-se de uma tábua de quatro pés de largura por seis de comprimento, montada sobre dois pares de rodas cujos eixos giratórios executam seu movimento graças a um encaixe cômodo formado por enormes pinos, também de madeira e aderentes a ambos os lados do estrado. Uma argola de ferro em cada canto serve para a passagem das cordas da carreta, a qual não possui uma dianteira móvel e que para virar precisa ser puxada de um lado até que o estrado escorregue pouco a pouco sobre a ponta do eixo da frente, o qual, por isso, como o eixo de trás, aliás, ultrapassa de dezoito polegadas a largura da carreta. Ao chegar a uma esquina, ergue-se a frente da carreta e puxa-se até terminar a meia-volta, esfregando-se as rodas imóveis sobre o calçamento.
Carregadores : Negros de carro
Carregadores: Negros de carro
Registro de Debret - Início do século XIX no Rio de Janeiro.
Seis negros são empregados no serviço de semelhante carro; quatro puxam à frente com corda e dois outros empurram por trás a massa rodante. A carreta e os seis negros pertencem ao mesmo proprietário, sendo cada viagem paga à razão de duas patacas e quatro vinténs.

Encontram-se inúmeros carros desse tipo junto ao muro que se prolonga até a porta da alfândega. Aí, durante as horas de abertura do estabelecimento, parte dos negros descansa nas carretas, enquanto os camaradas espiam o negociante de quem esperam trabalho. Mas este deve também encarregar um fiscal de acompanhar o transporte das mercadorias, para evitar os roubos dos carregadores infiéis, efetuados durante as inevitáveis paradas do trajeto.
A cena se passa na Rua Direita, na altura da porta da Alfândega.  

Fontes: Rio de Janeiro, cidade mestiça: nascimento da imagem de uma nação / ilustrações e comentários de Jean-Baptiste Debret; textos de Luiz Felipe de Alencastro, Serge Gruzinski e Tierno Monénembo; reunidos e apresentados por Patrick Straumann; tradução de Rosa Freire d’Aguiar. – São Paulo: Companhia das Letras, 2001
Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil
/ Jean Baptiste Debret. – São Paulo: Círculo do Livro, sem data.


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