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Perfuram
continuadamente a terra, como térmitas insaciáveis, à cata de
determinados minérios, cabendo à mica e seus derivados a importância
principal.
Caracteriza-se, sobretudo, este tipo de garimpo pelas sucessivas "bocas" de túneis distribuídas pelas encostas e ao longo de um curso d'água, numa analogia inevitável com as habitações trogloditas, silhuetas humanas sumindo de vez em quando em cada uma delas e .reaparecendo para despejar, a pouca distância, uma carga de terra vermelha ou roxa, fragmentos de feldspato, caolim e cristais, cuja mistura, ao ser despejada assemelha-se a uma repentina chuva de estrelas. Parece um milagre, depois que é tragado pelas bocas misteriosas, o reaparecimento do caboclo entre uma nuvem prateada, vindo despejar no "entulho" a sua carga preciosa. Enquanto isto, lá dentro as picaretas vão abrindo galerias extensas, corredores por onde a sofreguidão dos homens não se deixa abater pelos perigos e o cansaço. Há grande diferença entre o trabalho do garimpeiro de lavras e do garimpeiro batedor, este suportando as duras contingências do ofício a céu limpo. Ao garimpeiro de lavras as condições são mais adversas: ele perfura túneis até duzentos metros à luz de um lampião de carbureto, numa postura constrangida pelo espaço reduzido e sob um calor que, aí é excessivo, durante doze horas consecutivas, que se interrompem apenas para um ligeiro almoço. Ao descobrir, abaixo da crosta de matéria orgânica, boa quantidade de feldspato a que chama de "osso de cavalo", o garimpeiro constata nesta operação a existência de mica e cristais fundidos em fragmentos que para ele representam "satélites de pedras preciosas", animando-se, por isso, à perfuração de túneis que, à medida que se aprofundam, podem ou não revelar a presença cobiçada de minérios assaz valiosos como o ouro, a água-marinha, a ametista, e, até mesmo, rubelita (turmalina de cor vermelha), além de minérios metálicos, como columbita e galena, derivados da mica. A indumentária do garimpeiro de lavras é uma tanga, o torso e os braços são enrijecidos e, por todo o corpo aparecem nódoas produzidas pela colisão de seus movimentos contra as paredes do túnel e as pontas de quartzo que nelas afloram. Um túnel é feito em direção horizontal, podendo o garimpeiro "tocador" mudar algumas vezes a direção, conforme a tendência de veios que forem encontrados e se, em sentido oposto, ou seja, de outras "bocas" outro túnel lhe interceptar. Dá-se o caso de, ao pressentir pancadas próximas, ter o garimpeiro de mudar o curso que vinha seguindo, para evitar um desastre. Aliás, para reduzir o perigo dos desabamentos, um túnel é mais largo na linha do chão, mais ou menos 0,80 m, estreitando-se até a abobada em forma de arco e a uma altura aproximada de 1,60 m. Quem mais tempo aí permanece é o "tocador", pois o seu companheiro "despejador" entra e sai com o carrinho de mão, removendo o entulho. A cabana do garimpeiro de lavras consiste num salão de cinco por três metros, com duas aberturas sem portas, uma na frente e outra nos fundos. As paredes são de moirões de três metros, unidos e fincados no chão. A cobertura é de toros de dois palmos partidos em bandas e ajustados uns sobre os outros, à guisa de telhas, sem assoalho e sem conforto, pois aí o garimpeiro se instala dormindo em "tarimbas" feitas de varas, alimentando-se de feijão, arroz, banha e sal, unicamente. O garimpeiro de lavras está sempre "amarrado" ao fornecedor, o "patrão", que lhe supre de víveres, à conveniência da produção. Mantém-se afastado da família, pois só nos fins de semana e depois de percorrer longas distâncias pode rever os filhos. |
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