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Tipos Regionais : Sudeste
Garimpo de Lavras
Garimpo de Lavras
Garimpo de Lavras - Ilustração de Barboza Leite
Em algumas regiões de Minas Gerais, especialmente no vale do Rio Doce, compreendendo o rio Jequitinhonha e o seu afluente principal, o Suassuí, situam-se aspectos particularmente curiosos de extrativismo, como o que aqui vamos comentar: o garimpo de lavras, processo primitivo em que se ocupam alguns homens completamente afastados do meio social e portadores de carências orgânicas, seja pela natureza ingrata do ofício, como também pela insuficiência alimentar que os proventos adquiridos com tamanho esforço não dão para suprir. 
Perfuram continuadamente a terra, como térmitas insaciáveis, à cata de determinados minérios, cabendo à mica e seus derivados a importância principal.

Caracteriza-se, sobretudo, este tipo de garimpo pelas sucessivas "bocas" de túneis distribuídas pelas encostas e ao longo de um curso d'água, numa analogia inevitável com as habitações trogloditas, silhuetas humanas sumindo de vez em quando em cada uma delas e .reaparecendo para despejar, a pouca distância, uma carga de terra vermelha ou roxa, fragmentos de feldspato, caolim e cristais, cuja mistura, ao ser despejada assemelha-se a uma repentina chuva de estrelas.
Parece um milagre, depois que é tragado pelas bocas misteriosas, o reaparecimento do caboclo entre uma nuvem prateada, vindo despejar no "entulho" a sua carga preciosa. Enquanto isto, lá dentro as picaretas vão abrindo galerias extensas, corredores por onde a sofreguidão dos homens não se deixa abater pelos perigos e o cansaço.

Há grande diferença entre o trabalho do garimpeiro de lavras e do garimpeiro batedor, este suportando as duras contingências do ofício a céu limpo. Ao garimpeiro de lavras as condições são mais adversas: ele perfura túneis até duzentos metros à luz de um lampião de carbureto, numa postura constrangida pelo espaço reduzido e sob um calor que, aí é excessivo, durante doze horas consecutivas, que se interrompem apenas para um ligeiro almoço.

Ao descobrir, abaixo da crosta de matéria orgânica, boa quantidade de feldspato a que chama de "osso de cavalo", o garimpeiro constata nesta operação a existência de mica e cristais fundidos em fragmentos que para ele representam "satélites de pedras preciosas", animando-se, por isso, à perfuração de túneis que, à medida que se aprofundam, podem ou não revelar a presença cobiçada de minérios assaz valiosos como o ouro, a água-marinha, a ametista, e, até mesmo, rubelita (turmalina de cor vermelha), além de minérios metálicos, como columbita e galena, derivados da mica.

A indumentária do garimpeiro de lavras é uma tanga, o torso e os braços são enrijecidos e, por todo o corpo aparecem nódoas produzidas pela colisão de seus movimentos contra as paredes do túnel e as pontas de quartzo que nelas afloram.

Um túnel é feito em direção horizontal, podendo o garimpeiro "tocador" mudar algumas vezes a direção, conforme a tendência de veios que forem encontrados e se, em sentido oposto, ou seja, de outras "bocas" outro túnel lhe interceptar. Dá-se o caso de, ao pressentir pancadas próximas, ter o garimpeiro de mudar o curso que vinha seguindo, para evitar um desastre. Aliás, para reduzir o perigo dos desabamentos, um túnel é mais largo na linha do chão, mais ou menos 0,80 m, estreitando-se até a abobada em forma de arco e a uma altura aproximada de 1,60 m. Quem mais tempo aí permanece é o "tocador", pois o seu companheiro "despejador" entra e sai com o carrinho de mão, removendo o entulho.

A cabana do garimpeiro de lavras consiste num salão de cinco por três metros, com duas aberturas sem portas, uma na frente e outra nos fundos. As paredes são de moirões de três metros, unidos e fincados no chão. A cobertura é de toros de dois palmos partidos em bandas e ajustados uns sobre os outros, à guisa de telhas, sem assoalho e sem conforto, pois aí o garimpeiro se instala dormindo em "tarimbas" feitas de varas, alimentando-se de feijão, arroz, banha e sal, unicamente.

O garimpeiro de lavras está sempre "amarrado" ao fornecedor, o "patrão", que lhe supre de víveres, à conveniência da produção. Mantém-se afastado da família, pois só nos fins de semana e depois de percorrer longas distâncias pode rever os filhos.

Fonte :  O Bananeiro / Léia Quintière  in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


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