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Danças e Festas Folclóricas |
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Atualmente os trajes foram
simplificados mantendo a cor azul para os
Negros e o vermelho para os Caboclos ou Indígenas - Grupo
de Alagoas -
Maceió, Alagoas
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O
auto
ou dança realiza-se em três etapas ou partes. Mas é a última - a Luta e
a Prisão dos Negros - desenvolvido à tarde, que constitui a parte
espetacular do auto. Isto porque as duas primeiras partes - o Roubo e o
Batuque -, realizados na noite de véspera da festa, e o Resgate, na
manhã seguinte, são privativas dos brincantes ou apresentam menos o que
se apreciar, sendo certas vezes eliminados da apresentação.
O Roubo é chamado Roubo da Liberdade porque os negros obtêm a devida permissão das pessoas roubadas e das autoridades policiais da localidade para o saque, que demais fiscalizam e anotam todos os objetos “roubados”. Carregam, então, os negros para seu rancho de palha os mais variados objetos, que conservam em seu poder até o dia seguinte, quando serão resgatados. Após o saque os Negros levam o resto da noite a batucar ao som da “Esquenta Mulher”, orquestra típica de caixa, bombo, dois pífanos e pratos, e que tem no interior também os nomes de zabumba, terno, terno de oreia ou banda de pifes. Cantam, então, as seguintes musiquetas muito conhecidas e características, a primeira dos Negros e a segunda dos Caboclos (que no batuque, sem os enfeites de penas, folgam lado a lado com os Negros):
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Já madrugada é que comem
a panelada (cozido de carne de boi, com osso
de tutano, verduras, etc., servido com pirão escaldado), que levou toda
a noite a cozinhar no mocambo dos negros e adjacências.
O Resgate, pela manhã, consiste na devolução dos objetos roubados pelos Negros aos respectivos donos, mediante pequena esportula. Uma vez terminado o Resgate, o Rei dos Negros vai buscar a Rainha, ao som do “Esquenta Mulher”, e entre danças e músicas é conduzida ao seu trono (cadeira colocada no fundo do mocambo), a cuja frente continuam as danças dos Negros até a hora do almoço, quando o grupo se dispersa. A tarde, voltam os Negros, após haverem visitado (seguidos aliás pelos Caboclos que lhes repetem as manobras) a capela ou igreja mais próxima, onde se prosternam e fazem evoluções variadas, sempre ao som do “Esquenta Mulher”. Em seguida dirigem-se os Negros para o Sítio e o Mocambo, e os Indígenas para a paliçada. Inicia-se, então, o episódio das lutas e roubo da Rainha. Ao tempo em que, no rancho dos Negros, recomeça o batuque, agora somente dançado, sem cantos, ao som de Esquenta Mulher. Os Caboclos começam sua marcha em busca dos Negros, ora avançando, escondendo-se nas moitas de mato da redondeza ou na folhagem do Sítio, cheirando e escutando o chão, marchando na ponta dos pés, dançando o “toré” que a orquestra de pífanos ataca alternadamente com o “Folga Negro”. Avisados por seu Vigia, saem os Negros de sua palhoça, em grande alarido, para enfrentar o inimigo. Trava-se, então, uma série de combates simulados, precedidos por evoluções dos dois grupos. Os reis negro e indígena esgrimam espadas e os demais figurantes dos dois partidos imitam a luta com seus arcos e flechas ou suas foices de madeira, volteando, saltando, correndo, recuando, sempre ao ritmo das duas musiquetas. Depois de vários embates, os Caboclos, são repelido e debandam. Mas não desistem do intento de subjugar os Negros. Mandam o Espia de Indígenas colocar em frente do rancho dos Negros uma garrafa de jurema, que é descoberta pelos Negros e que por eles ingerida os faz adormecer, caídos no chão. Aproveitam-se os Caboclos da oportunidade e capturam a Rainha, que é levada para o seu acampamento ou paliçada. Despertando, ao fim de algum tempo, os Negros dão pela falta da Rainha e saem novamente a combater os caboclos, que reaparecem em frente ao sítio. Nesse meio tempo, o Papai Velho e a Catirina, burlando a vigilância dos Caboclos, conseguem reaver a Rainha, que volta ao seu trono no Mocambo dos Negros. Ao regressar do combate, tem notícia o Rei dos caboclos da recaptura da Rainha pelos Negros. E volta imediatamente ao combate, cada vez mais encarniçado. E já quando vai caindo a tarde, os ataques dos Caboclos se tornam cada vez mais perigosos e insistentes, o andamento das musiquetas do Dá-lhe Toré e do Folga Negro se torna cada vez mais rápido, até que um golpe lançado pelo Rei dos caboclos contra o peito esquerdo do Rei dos Negros fere-o de morte. O Rei dos caboclos enguiça-o imediatamente, isto é, passa-lhe por cima do corpo, e os Negros refugiam-se no reduto, enquanto a Rainha sai a tirar esmolas para o enterro do defunto marido. Nesse ínterim, porém, o próprio Rei dos Caboclos ressuscita o Rei dos Negros, fazendo-o cheirar uma folha de jurema (ou, em seu lugar, qualquer outro mato), e logo se reiniciam os combates, que vão terminar pouco tempo depois com a prisão do Rei dos Negros. Espocam foguetes, fogem e debandam os Negros, a meninada cobre de vaia os vencidos e os Caboclos vitoriosos aprisionam e amarram os Negros, que são vendidos aos assistentes. A Rainha, igualmente aprisionada, é vendida a um dos maiorais presentes à festa. E entre choros e súplicas do Papai Velho e da Catirina, que imitam a língua atravessada dos antigos negros da Costa, termina o auto ou bailado dos quilombos. Esta descrição corresponde à forma representada em Maceió, arrabalde de Bebedouro, entre os anos 1951 e 1958, havendo variantes correspondentes a épocas e localidades diversa do Estado. |
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Fontes :
Danças Populares Brasileiras / coordenação de Ricardo
Ohtake, pesquisa de Antonio José Madureira, texto de
Helena Katz, consultor Terson da Costa Praxedes, Porto Alegre - RS -
Projeto Cultural Rodhia, 1989
Dicionário do Folclore
Brasileiro - Câmara
Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data
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