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Nordeste : Quilombo
Quilombo
Figuras do Quilombo - Maceió, Alagoas
Foto cedida por Teo Brandão (Maceió) para publicação
no Dicionário do Folclore Brasileiro de Câmara Cascudo
Alguns pesquisadores consideram o Quilombo de Alagoas uma sobrevivência histórica do Quilombo de Palmares. Outros, negam a ligação e identificam este auto popular com os Congos, Cucumbis, Caboclinhos e Mouriscadas, pelo fato de ser uma luta onde os negros são derrotados.
Pode ser representado em qualquer época do ano, enquanto entretenimento isolado, mas em geral faz parte de festas religiosas como Natal ou Festas dos Padroeiros.

Câmara Cascudo (1898-1986) descreve o Auto em detalhes:

Para a representação, que se realiza numa praça ou largo, arma-se uma palhoça - o Mocambo - onde se localizam os negros, e que é enfeitada com bandeirolas de papel de seda e cercada pelo Sítio ou Jardim: bananeiras e mamoeiros transplantados para o local. A certa distância faz-se uma paliçada, atrás do qual se escondem os indígenas ou caboclos.
Os indígenas ou os caboclos trajam tangas, cocares, braceletes, perneiras de penas ou capim (ou junco), tudo sobre calções e camisetas tinturados de vermelho, pintam-se de ocre e carregam arcos e flechas. Os negros vestem calças curtas de mescla azul e camiseta branca, sem mangas, chapéu de palha de ouricuri, e pintam-se de fuligem e carregam foices de madeira como armas de guerra. Os Reis - um dos Negros e outros dos Caboclos - usam trajes semelhantes aos dos outros folguedos natalinos do Ciclo do Reisado; calções, manto, blusa de cetim azul ou vermelho, meias compridas, guarda-peito enfeitados com espelhos, coroa de ouropel, alfôjar e areia brilhante. Como armas os Reis empunham antigas espadas da Guarda Nacional. A Rainha, usa vestido branco, comprido, com guarda-peito de espelhos, capa de cetim enfeitada de espiguilha e diadema de papelão pintado.
Há ainda como personagens: a Catirina (homem vestido como escrava negra, carregando nos braços um boneco); o Papai Velho (Pai do Mato em Piaçabuçu), com cajado e foice nas mãos, às vezes com barba branca; o Espia dos Caboclos, num traje mais rico e vistoso de indígena, e o Vigia dos Negros, com chapéu enfeitado de espelhinhos e uma espingarda a tiracolo.
Quilombo
Atualmente os trajes foram simplificados mantendo a cor azul para os Negros e o vermelho para os Caboclos ou Indígenas - Grupo de Alagoas - Maceió, Alagoas
O auto ou dança realiza-se em três etapas ou partes. Mas é a última - a Luta e a Prisão dos Negros - desenvolvido à tarde, que constitui a parte espetacular do auto. Isto porque as duas primeiras partes - o Roubo e o Batuque -, realizados na noite de véspera da festa, e o Resgate, na manhã seguinte, são privativas dos brincantes ou apresentam menos o que se apreciar, sendo certas vezes eliminados da apresentação. 
O Roubo é chamado Roubo da Liberdade porque os negros obtêm a devida permissão das pessoas roubadas e das autoridades policiais da localidade para o saque, que demais fiscalizam e anotam todos os objetos “roubados”. Carregam, então, os negros para seu rancho de palha os mais variados objetos, que conservam em seu poder até o dia seguinte, quando serão resgatados.
Após o saque os Negros levam o resto da noite a batucar ao som da “Esquenta Mulher”, orquestra típica de caixa, bombo, dois pífanos e pratos, e que tem no interior também os nomes de zabumba, terno, terno de oreia ou banda de pifes. Cantam, então, as seguintes musiquetas muito conhecidas e características, a primeira dos Negros e a segunda dos Caboclos (que no batuque, sem os enfeites de penas, folgam lado a lado com os Negros):
Folga Negro
Branco não vem cá.
Se vinhé
Pau é de levá.

Titirica
Faca é de cortá.
Folga parente,
Caboclo não é gente
Dá-lhe toré,
Dá-lhe toré,
Dá-lhe toré,
Dá-lhe, dá-lhe toré
Faca de ponta
Não mata muié.
Já madrugada é que comem a panelada (cozido de carne de boi, com osso de tutano, verduras, etc., servido com pirão escaldado), que levou toda a noite a cozinhar no mocambo dos negros e adjacências.
O Resgate, pela manhã, consiste na devolução dos objetos roubados pelos Negros aos respectivos donos, mediante pequena esportula. Uma vez terminado o Resgate, o Rei dos Negros vai buscar a Rainha, ao som do “Esquenta Mulher”, e entre danças e músicas é conduzida ao seu trono (cadeira colocada no fundo do mocambo), a cuja frente continuam as danças dos Negros até a hora do almoço, quando o grupo se dispersa.
A tarde, voltam os Negros, após haverem visitado (seguidos aliás pelos Caboclos que lhes repetem as manobras) a capela ou igreja mais próxima, onde se prosternam e fazem evoluções variadas, sempre ao som do “Esquenta Mulher”.
Em seguida dirigem-se os Negros para o Sítio e o Mocambo, e os Indígenas para a paliçada. Inicia-se, então, o episódio das lutas e roubo da Rainha. Ao tempo em que, no rancho dos Negros, recomeça o batuque, agora somente dançado, sem cantos, ao som de Esquenta Mulher. Os Caboclos começam sua marcha em busca dos Negros, ora avançando, escondendo-se nas moitas de mato da redondeza ou na folhagem do Sítio, cheirando e escutando o chão, marchando na ponta dos pés, dançando o “toré” que a orquestra de pífanos ataca alternadamente com o “Folga Negro”.
Avisados por seu Vigia, saem os Negros de sua palhoça, em grande alarido, para enfrentar o inimigo. Trava-se, então, uma série de combates simulados, precedidos por evoluções dos dois grupos. Os reis negro e indígena esgrimam espadas e os demais figurantes dos dois partidos imitam a luta com seus arcos e flechas ou suas foices de madeira, volteando, saltando, correndo, recuando, sempre ao ritmo das duas musiquetas.
Depois de vários embates, os Caboclos, são repelido e debandam. Mas não desistem do intento de subjugar os Negros. Mandam o Espia de Indígenas colocar em frente do rancho dos Negros uma garrafa de jurema, que é descoberta pelos Negros e que por eles ingerida os faz adormecer, caídos no chão.
Aproveitam-se os Caboclos da oportunidade e capturam a Rainha, que é levada para o seu acampamento ou paliçada.
Despertando, ao fim de algum tempo, os Negros dão pela falta da Rainha e saem novamente a combater os caboclos, que reaparecem em frente ao sítio. Nesse meio tempo, o Papai Velho e a Catirina, burlando a vigilância dos Caboclos, conseguem reaver a Rainha, que volta ao seu trono no Mocambo dos Negros. Ao regressar do combate, tem notícia o Rei dos caboclos da recaptura da Rainha pelos Negros. E volta imediatamente ao combate, cada vez mais encarniçado.
E já quando vai caindo a tarde, os ataques dos Caboclos se tornam cada vez mais perigosos e insistentes, o andamento das musiquetas do Dá-lhe Toré e do Folga Negro se torna cada vez mais rápido, até que um golpe lançado pelo Rei dos caboclos contra o peito esquerdo do Rei dos Negros fere-o de morte. O Rei dos caboclos enguiça-o imediatamente, isto é, passa-lhe por cima do corpo, e os Negros refugiam-se no reduto, enquanto a Rainha sai a tirar esmolas para o enterro do defunto marido.
Nesse ínterim, porém, o próprio Rei dos Caboclos ressuscita o Rei dos Negros, fazendo-o cheirar uma folha de jurema (ou, em seu lugar, qualquer outro mato), e logo se reiniciam os combates, que vão terminar pouco tempo depois com a prisão do Rei dos Negros. Espocam foguetes, fogem e debandam os Negros, a meninada cobre de vaia os vencidos e os Caboclos vitoriosos aprisionam e amarram os Negros, que são vendidos aos assistentes. A Rainha, igualmente aprisionada, é vendida a um dos maiorais presentes à festa. E entre choros e súplicas do Papai Velho e da Catirina, que imitam a língua atravessada dos antigos negros da Costa, termina o auto ou bailado dos quilombos.

Esta descrição corresponde à forma representada em Maceió, arrabalde de Bebedouro, entre os anos 1951 e 1958, havendo variantes correspondentes a épocas e localidades diversa do Estado.

Fontes : Danças Populares Brasileiras / coordenação de Ricardo Ohtake, pesquisa de Antonio José Madureira, texto de
Helena Katz, consultor Terson da Costa Praxedes, Porto Alegre - RS - Projeto Cultural Rodhia, 1989
Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data



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