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Usinas de Caroá
É ainda existente e praticada no sertão do Nordeste a operação rudimentar de conseguir a fibra do caroá esmagando sua folha com auxílio de uma pedra lisa. Encontra-se também o sistema de desfibrar deixando as folhas daquela bromeliácea de molho de quatro a sete dias, fazendo, depois, a "batedura" contra um lajedo ou um tronco de madeira sólida. Em seguida outro banho e nova bate dura até se desprender toda a polpa da planta ficando somente as fibras do caroá. É possível mencionar ainda a primitiva maneira de obter a fibra através da raspagem da folha. Isso já era conhecido do elemento indígena, principalmente a raspagem que apesar de muito rudimentar servia perfeitamente ao objetivo de sua obtenção.

Tais processos foram descritos por ARRUDA CÂMARA, na primeira monografia sobre o caroá, editada em 1810 com o título "Dissertação sobre as plantas do Brasil que podem dar linho para muitos usos da sociedade, e suprir a falta de cânhamo". Nenhum desses sistemas, entretanto, é de grande utilização. Servem apenas para nos dar idéia do modo como era tratado o caroá em época não muito remota. Classificamo-los portanto como "velhas formas de cultura", que ainda se conservam graças ao aferrado tradicionalismo do sertanejo do Nordeste e principalmente à utilização que ainda se dá à fibra do caroá no sertão: fabricação de cordas e de determinado tipo de rede e que caracteriza, de certa forma, uma "indústria doméstica" nessa região.
Usinas de Caroá
Usinas de Caroá - Ilustração de Percy Lau
O que é característico e generalizado, para tratar o caroá nos tempos presentes, é a chamada "usina", ou "desfibradora", "beneficiadora" de caroá, ou ainda, a "fábrica". Encontramo-la sob estas várias denominações sem particularidades de zona. O mesmo informante dará todos estes nomes em menos de meia hora de palestra. A primeira entretanto - usina - é a mais usada, resultado talvez de um reflexo originado pelas usinas de açúcar da "Mata".
Essa variada denominação serve para indicar as construções, via de regra, de tijolo e telha, onde se acham as "máquinas desidratadoras" movidas quase sempre a vapor, as "prensas" e os "cordões de secagem", localizados ao ar livre, nos fundos ou ao lado das construções.
As máquinas desidratadoras, como especifica o termo, servem para desidratar a folha do caroá. São compostas de dois rolos estreitos dentados e bem ajustados. Um eixo central, comum a todas as máquinas, está ligado ao motor por uma correia. Este é o princípio geral encontrando-se, entretanto, variações numerosas, provenientes de adaptações, melhoramentos, etc. A força motriz dessas máquinas é conseguida por vapor e mais modernamente pela queima de óleo.
Este último combustível não tem tido boa aceitação, uma vez que encarece sobremodo a produção das usinas.
 
O homem ou mulher que trabalha nas máquinas chama-se "desfibrador". Com luvas de couro ou da própria fibra, ele coloca duas ou três fôlhas entre os rolos, segurando uma das extremidades com firmeza. As folhas são, em seguida, puxadas e repete-se a operação, desta vez pela outra extremidade do caroá. De tal maneira que, terminada a operação, resta somente um feixe de fibras esbranquiçadas. Tal operação, quando o operário tem experiência, não dura mais de dez segundos.
Depois de desidratado o caroá é colocado nos "secadores". Os secadores são fileiras de arame bem estendido, com a altura de um metro a metro e meio. Bem espaçados, estão classificados de forma a ser possível diferençar as fibras postas a secar em determinado dia.

Ao fim de alguns dias, nunca menos de quatro, as fibras já secas são retiradas para serem catadas. Esta parte é feita quase sempre fora da usina, nas casas dos operários, uma vez que são as mulheres que se ocupam de tal mister.
Esta é uma operação penosa que necessita de grande paciência. São separados os fios maiores dos menores, assim como deixada de lado uma parte imprestável para as fábricas de tecidos ou cordoarias. Esta parte inferior será usada na fabricação de estopas e outros produtos grosseiros.

Depois de catado, o caroá retorna à usina para a operação final que é a de "prensar" as fibras em fardos de sessenta quilos ou em arrobas de quinze.
As prensas são as mais variadas possíveis. Encontram-se desde a "hidráulica" de construção moderna e esmerada até as de fabricação antiga, primitivas, quando não são adaptadas com outras peças feitas no próprio local. Enfim acha-se o caroá em condições de ser transportado para os depósitos ou diretamente aos compradores, no caso da Paraíba, da Bahia etc. Em Pernambuco, toda a produção de caroá das beneficiadoras é enviada para a cooperativa de São Caetano, que é o órgão que supervisiona e orienta a indústria extrativa de tal fibra.
Na cooperativa ele será classificado em padrões já estabelecidos para o consumo nas fábricas do litoral. A produção da Paraíba é absorvida por Campina Grande que a revende para Recife.

Cada usina tem de três a dez máquinas desidratadoras, dependendo isto dos meios de seus proprietários, das reservas de caroá na zona e da concorrência de outras desfibradoras nas proximidades. É interessante assinalar que as grandes usinas estão sempre situadas em condições privilegiadas. Isto se explica pelo fato de elas pertencerem às fábricas de fiação, tecelagem etc., que mantém técnicos em constantes trabalhos, não só de apuração da espécie mas também para sua localização de modo a ser explorado economicamente com vantagem.

As grandes usinas possuem sempre várias casas em seu redor para os operários. Em muitos casos encontra-se mesmo uma escola, o ambulatório e a cooperativa. É uma forma de fazer com que o homem se fixe no local e acima de tudo guarde a. maior parte de seu tempo para o trabalho da "fábrica".

Veja também:
Pesquisadores de diversas áreas descobriram outras funções para o velho caroá. Novos usos e estudos farmacológicos estão em desenvolvimento. Veja mais informações em “a proteção que vem da Caatinga”
 - http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/biodiversa/a-protecao-que-vem-da-caatinga/

Veja também :
O Tirador de Caroá


Fonte: As Usinas de Caroá / Ney Strauch in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


Ofícios e Técnicas
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