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Produtos da Terra : Babaçuais
Cobrindo mais da metade do território nacional, a "flora extra-amazônica" ou "geral" encerra, como uma de suas seis zonas características, a dos cocais - florestas quase puras de palmeiras de várias espécies e gêneros. Por sua vez, a zona dos cocais engloba diferentes tipos de vegetação, perfeitamente individualizados, escalonados do litoral do planalto, através dos mangues do litoral, das campinas baixas litorâneas, dos babaçuais, dos campos cerrados, das caatingas disseminadas; dos carnaubais, buritizais e açaízais; dos areais semidesérticos; dos remansos de flora hidrófila; dos capões de mato e matas ciliares; das transgressões da mata amazônica, com a sua franja característica, dos carrascais em que uma flora rasteira e traçada assinala uma de suas notas características.

Dentro da área vastíssima da flora extra-amazônica - igual a 60% do território nacional - formam os "babaçuais" florestas mais ou menos puras, quase sempre cocais típicos, no Nordeste Ocidental; ou ainda naquela área, ou fora dela, ocorrências, tais como no Centro-Oeste (Mato Grosso e Goiás) , em certos trechos do Brasil de Leste (zona do São Francisco, Triângulo Mineiro, zona limítrofe goiano-mineira); ou, além disso, associações heteróclitas, pequenos grupos, acantonamentos, mas agora no interior da própria região amazônica onde, em várias espécies, aparecem nos rios Solimões, Purus, Negro, Jamundá, Tapajós inferior e baixo Amazonas propriamente dito.
Babaçuais
Babaçuais - Ilustração de Percy Lau
A palmeira denominada babaçu - uma das plantas nativas características da zona dos cocais - pertence ao gênero Orbignya Martiana, B. RODR., ao passo que a mais freqüente na região da hiléia, filia-se ao gênero Orbignya speciosa, MART., esta comercialmente inferior à primeira. 
Em Mato Grosso e Goiás, os "babaçuais" se compõem, todavia, de indivíduos de outras espécies, entre as quais se assinalam a Orbignya longibracteata, B. RODR., a Orbignya macrocarpa, B. RODR., a Orbignya urbaniana, DAMM. etc.

No Maranhão, os "babaçuais" típicos, do ponto de vista econômico, localizam-se na Baixada Maranhense, onde aparecem cobrindo, de preferência, as ondulações do terreno. - Estendem-se, então, em cocais homogêneos, pelas terras distantes do rio até alcançarem o vale de qualquer outro curso d'água mais próximo.
Do ponto de vista florístico, a região típica dos "babaçuais" situa-se, porém, no planalto, cobrindo área equivalente à quarta parte do território do Maranhão. Aí prevalece a Orbignya Martiana, B. RODR., de maior valor comercial, segundo BURRET.

Em todo o trecho planáltico, a dominância do babaçu chega a caracterizar toda a zona imensa que se estende do Piauí a Rondônia, em Mato Grosso, afastando-se nitidamente, e cada vez mais, da fitofisionomia amazônica, da feição própria das caatingas e, bem assim, da dos campos cerrados envolventes.

A impressão visual dos "babaçuais", que no interior do Maranhão constituem zona botânica perfeitamente individualizada, lembra, pela massa compacta dos palmeirais, o aspecto maciço dos cafezais de São Paulo, como justamente já assinalara em 1928, EURICO TEIXEIRA DA FONSECA, em seu trabalho "A Mina Vegetal de Ouro - O Babaçu".

Grande riqueza vegetal do Brasil, o babaçu não encontrou ainda exploração e aproveitamento em proporção com a suas grandes possibilidades no comércio, dados os empecilhos e dificuldades, que a sua explotação em larga escala exige.
Dentre os sérios problemas impostos à boa explotação do babaçu, figura a quebra do coquilho, sendo 10% a porcentagem que a amêndoa em relação à casca apresenta. Dessa maneira compreende-se que a exportação do coquilho inteiro constitui dificuldade séria que cumpre, quanto antes, remover. Por outro lado, o transporte do coquilho para os pontos de beneficiamento representa outro obstáculo, que contribui, aliás, para explicar a localização presente da explotação
nas baixadas não muito distantes dos pontos de beneficiamento e exportação, cumprindo salientar que o beneficiamento precisa ser feito na própria zona de produção. Um terceiro problema prende-se à obtenção de máquina adequada a fim de com a mesma se obter a quebra do coquilho, pois a extração da amêndoa tem que ser perfeita, tanto quanto possível, e realizada no próprio local onde se encontra o "babaçual".
Completando o quadro das dificuldades a resolver, surge o problema da mão-de-obra, pois que, além da índole do povo ainda contrária a um tal "gênero de vida", os "babaçuais" esplendem em zona onde a população inexiste, ou é extraordinariamente rarefeita.

Não obstante todos os empecilhos com que vem lutando a explotação do babaçu, a exportação deste, longe de diminuir, ou estacionar, tem aumentado progressivamente, como revelam as estatísticas relativas.
Encarado o babaçu sob o ponto de vista industrial, faz-se mister indicar alguns aspectos de primordial importância, como sejam, no caso, a produção por unidade de área, cuidados com o produto exportado, imunização das sementes, secagem dos cocos, possibilidades de cultura, estimação da produção possível, custo da produção, variações desta, etc.

As variações gerais, devidas às condições do clima, sobretudo, além da variação individual, decorrentes do solo local, idade da palmeira, do vento, da luz, e das águas recebidas, constituem uma série de razões fortes capazes de explicar as divergências ainda existentes quanto à grandeza da produção, por palmeira e por unidade de área, considerado o babaçu como matéria-prima para fins industriais. Por isso mesmo, não é de causar espanto a afirmação de se encontrarem, conforme os locais observados, palmeiras produzindo, cada uma, doze ou mais cachos anuais de coquilhos, tendo cada cacho trezentos ou mais de trezentos pequenos cocos, enquanto outras apenas dão, por unidade, um ou dois cachos anualmente.

Em seu trabalho "O coco Babaçu e o Problema do Combustível" (2.a edição - Rio de Janeiro, 1940, Instituto Nacional de Tecnologia) o químico, professor SILVIO FRÓIS ABREU, admitiu a produção de 800 cocos por palmeira durante um ano.
A propósito, depois de aludir à superabundância dos indivíduos nos palmeirais, onde se estabelece verdadeira luta entre as palmeiras babaçu e outras espécies concorrentes visando à conquista de um raio de sol, escreveu o referido químico: "A densidade dos palmeirais, no estado em que se encontram, é em geral, muito grande; muito frequentemente encontramos mais de 500 por hectare; tivemos a oportunidade de contar até 3333 por hectare. Nessas concentrações, há quase sempre grande porcentagem de palmeiras improdutivas, por deficiência de crescimento, por serem ainda pindovas"*.
O autor admitiu somente 250 palmeiras por hectare, em palmeirais submetidos à explotação. Cada palmeira disporia, destarte, de uma área de 400 metros quadrados ou seja de 6,3 metros de estipe a estipe.
 
Não obstante os progressos verificados na exploração dos "babaçuais", ainda não é possível afirmar-se ser a explotação do babaçu um "gênero de vida" típico no Brasil, porque geralmente o trabalhador rural apenas se dedica à ocupação da quebra do coco. A colheita do babaçu existe sem dúvida, mas ainda não conseguiu desviar totalmente o trabalhador rural das suas roças de arroz, algodão e mandioca, localizadas nos pontos em que mais se adensa a população. Além disso, a índole do povo, como se disse, faz com que o homem do campo apenas sinta a necessidade de trabalhar nos "babaçuais" quando a penúria do dinheiro lhe cai em cheio aumentando-lhes as privações. É quando ele, a mulher, todos de casa, enfim, passam a trabalhar horas a fio nos "babaçuais", na faina da quebra de cocos, para conseguirem, conjuntamente, obter até cento e vinte quilos de coquilhos, ou seja 8 a 10 quilos de amêndoas. E mais por índole, ou por falta de educação dirigida no bom sentido econômico, do que por qualquer razão de ordem físico-geográfica, logo que conseguem a correspondente quantia em dinheiro, ou em gêneros, voltam novamente a não trabalhar nos "babaçuais". "até que a necessidade financeira premente, os impila, mais uma vez, para a mina vegetal dos "babaçuais".
E é pena que tal aconteça numa região tão despovoada e tão rica de recursos naturais; porque uma forte, inteligente, oportuna e sistemática educação industrial poderia contribuir decisivamente para a transformação daqueles hábitos arraigados, e influir diretamente para a valorização e o aumento das explotações dos "babaçuais", fonte de riqueza onde a amêndoa de babaçu chega a produzir cerca de 68% de óleo claro, ligeiramente ambreado; além de ser próprio para alimentação e fabricação de margarina, é indicado para indústria do sabão, e sabonete. Além disso costuma ser empregado como combustível nos motores de combustão interna. A torta é utilizada na alimentação do gado, enquanto a casca do coquilho é reconhecida como excelente combustível e fornece ótimo carvão.

Motivo de sobra teve, pois, SÍLVIO FRÓIS ABREU, ao rematar o que escreveu nas "Variações da Produção do Babaçu": "No fenômeno da produção de babaçu pelos rotineiros métodos atuais, há a considerar uma constante, que é o número de braços que se mantêm fiéis ao coco - principalmente das mulheres - e uma variável representada pelo braço masculino que abandona o babaçu quando são promissoras as cotações do algodão e do arroz".

Se fosse possível reunir, numa frase, a significação antropogeográfica dos "babaçuais", diríamos que eles aparecem, no Brasil do presente, muito mais como "recursos de produção" do que como "recursos de ocupação" e que, quando existem, como tais, apenas conseguem enfeixar as acanhadas feições de um "gênero de vida" complementar.


Atualmente o babaçu é matéria-prima para extração do óleo de coco babaçu que tem muitas aplicações industriais e traz benefícios à saúde. Veja “Óleo de coco babaçu: comum na indústria cosmética e de alimentos. Conheça seus benefícios” em http://www.ecycle.com.br/
               
* Os naturais dão o nome de "pindova" à palmeira de pouca idade, cuja utilidade é apenas a produção das palmas para cobertura de casas, fabrico de copos etc.; com o crescimento, a pindova
passa a palmeira. (Nota de SÍLVIO FRÓIS ABREU).


Fontes: Babaçuais / José Veríssimo da Costa Pereira in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


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