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Aprende-se em botânica
ser a castanha o fruto do cajueiro. A noção comum, entretanto, é de que
merece este atributo a polpa sumarenta, revestida por uma película de
cor viva, variada e brilhante, ou seja o "caju".
O caju é constituído de duas partes distintas; pedúnculo e amêndoa, ambos com propriedades independentes, implicando em usos diversos, mas cada qual oferecendo ao homem, utilidades e proveitos copiosos. O sumo da polpa do caju presta-se ao fabrico de refrigerantes e vinhos. Servido após a espremedura tem a denominação de "mocororó", (no Ceará), resultando depois do mesmo fermentado e destilado, a cajuína. No primeiro estágio, o consumo é feito imediatamente às refeições, podendo a cajuína ser conservada bastante tempo e engarrafada para exportação. Os vinhos de caju são muito apreciados. Da "castanha" do caju, o aproveitamento também é complexo. Levada ao fogo, o óleo do pericárpio se evapora, sendo a amêndoa extraída a seguir. É tarefa à qual as crianças dão preferência, resultando disso lembranças as mais duradouras da infância de um nordestino. Outra operação sofre a castanha, dessa vez para fins industriais, com a utilização de máquinas: a extração do óleo. Aí se prescinde da combustão do pericárpio, resultando aproveitamento mais completo de todo o conjunto. Vários tipos de doces são feitos de caju, incluindo-se nos condimentos a amêndoa em forma de farinha (pilada) ou inteira. Neste caso também é a "castanha" vendida em saquinhos ou em rosários. Estes as crianças sertanejas põem ao pescoço e vão desfiando enquanto comem, restando, ao fim o cordão vazio! Da farinha fazem-se, ainda, o "cauim", de receita indígena, afrodisíaco. As utilidades do cajueiro são muitas e, delas, uma da qual se beneficia a miúdo o sertanejo, é a terapêutica. As raizes têm função diurética, a "casca" presta-se à assepsia e cicatrização de ferimentos. Dos galhos recurvos fazem-se cavernames de embarcações pequenas e, não obstante o crime que isto consiste, é a madeira do cajueiro consumida no fabrico de carvão. Nos bares citadinos ou em botequins de beira de estradas; em palhoças improvisadas à beira de rios ou açudes, nos banhos públicos para homens, muito comuns durante a estação chuvosa, o caju é muito consumido em virtude de libações alcoólicas que têm no Anacardium Occidentale, um delicioso coadjuvante. Com alimentos, especialmente com "feijoada", não se dispensa um bom número de cajus, tipo azedo - de maior acidez - de preferência. Aliás, não é a propósito, mas convém frisar o uso desse tipo de caju, na pescaria e na engorda de suínos. A enumeração de tantos fatos em torno do cajueiro se faz implícita a noção, por extensão, da sua influência no folclore. Evidentemente, este pormenor não nos cabe explorar com minúcia nestas notas. Contudo, e ressalvando nossas escusas, verificamos ser grande e pontilhada de tópicos imorredouros na lembrança, até pela saudade, a influência do cajueiro no "populário", distribuindo-se nos resíduos de uma novelística ingênua e matuta, pelos meandros imaginosos da lenda, das crendices e de fatos pitorescos, cuja notícia tem curso ininterrupto, inclusive de abundante anedotário , A atividade lúdica da criança nordestina se condiciona, na maior parte aos recursos que lhe oferece um processo sócio-econômico restrito. Daí a importância do cajueiro, também nesse ponto, revelando-se viva, patente, a permitir à imaginação infantil um número considerável de jogos em que a "castanha" ocupa função especial ou única. Para concluirmos estas referências sobre tão nobre vegetal a que, em contraposição poderíamos mencionar apenas a carnaubeira (Copernicia cerífera, MARTIUS) , espécie da qual o nordestino é também um beneficiário exclusivo, mais uma vez recorremos a MAURO MOTA: "Nenhuma outra árvore existe de ecologia equivalente pela extensão à do cajueiro. Transcende de ambiência fitogeográfica. É como se escapasse do seu para um reino de humanidade e, aí, com os ramos em laço fizesse a simbiose das espécies. Planta e criaturas humanas desenvolvem-se juntas numa interdependência fraternal ... " |
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