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Tipos Regionais do Nordeste
Cassacos
Cassacos
Cassacos -  Ilustração de Percy Lau
A presença da grafia nada assemelha o nosso cassaco nordestino ao guerreiro das estepes russa.
Falta-lhe a montaria, o colorido das vestes, a destreza e a belicosidade do eslavo. Cassaco é chamado, em todo aquele mundo, o simples sertanejo de rede-nas-costas1 que vive no ciganismo do trabalho das construções públicas.

De quanto remonta a sua origem, não o sabemos. E de se imaginar ter aparecido após a criação do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, antiga IFCOS), pelos idos de 1908. 
Distingue-se do trabalhador ocasional cuja frustração das safras nos anos secos o faz caçar ganho2 nas construções do governo - pela atividade permanente, de janeiro a janeiro - nas obras públicas. Indiferentes à pegada do inverno3, acodem de todos cantos - isolados ou aos magotes, mais raramente com mulher e filhos, de caminhão ou a pé e quando donos de jumentos de trabalho, tangendo-os pelos caminhos - parecendo até mesmo que farejam o início da construção de um açude ou de uma estrada. Mais das vezes, não conduzem sequer a própria ferramenta de seu trabalho de vez que é obrigação do encarregado da obra fornecê-la.

No local, se arrancham ao abrigo de algum telheiro, à sombra de um pé-de-pau ou constroem latadas de ramos onde passam a viver. Todo o mobiliário dessa tosca e ocasional morada se resume na rede (que durante o dia permanece enrolada a um esteio), um malote onde trancam os guardados, alguns caixotes que também fazem a vez de cadeiras, um pote d'água de beber e a clássica panela de barro no fogão de trempe.

Quando donos de tropas de jumentos, para o serviço de movimentação de terra, especulam logo um cercado onde fazer solta dos animais no fim do dia de trabalho.

Nada cultivam. Adquirem para o sustento nas feiras sertanejas ou no próprio barraco que se instala nas imediações.

Pilhéricos e mais despreocupados, não se mostram taciturnos como os sertanejos que ali estão fazendo ganho à espera do inverno. À noitinha, quando largam o serviço, sempre estão prontos para uma reunião - cantaria, jogo de cartas ou fobó4 - como indiferentes às canseiras do trabalho.

Piolho5 das construções públicas onde cedo aprendem a dar-de-mamar6 a enxada, são por isso habitualmente enjeitados como diaristas nas fazendas daquelas redondezas. Muitos demonstram certa especialidade funcional. Alguns são paleadores de primeira e criam fama pela habilidade em sacudir a terra a grande altura, fazendo "foguetão" - a pá dá uma cambalhota no ar e volta às mãos do cassaco, enquanto a terra se destaca num bloco compacto. Costumam trabalhar cantando, na cadência do coco puxado por um a que os outros respondem em coro. Na construção do açude Itãs (Caicó, RN) de 1932-6, paleavam ao som do "Tamanqueiro":

"Oi tamanqueiro
eu quero um par,
quero um par.
Eu quero um par,
de tamanco prá dançá."

Os da pedra - que trabalham nas pedreiras - são ainda mais teatrais. Três marreteiros malhando, às vezes no mesmo aço - fazem piruetas com a ferramenta que foge pelo sovaco e volta às mãos por cima do ombro - num assobio soprado que dá som à trajetória e no tinido da pancada, ritmo do coco, "que faz a pedra mais maneira" (mais leve):

"Ôôôôô - malha
Seu maia.
Ôôôô - malha malhadô
Vamos maiá,
Seu maia,
Vamos maiá,
Segundo a marcha do tempo;
É roda-pé, cama de vento,
É ferro novo de engomá ... "

A permanência do cassaco no local se finda com o término da obra ou a notícia de uma outra frente de trabalho de remuneração mais vantajosa. Aí alcançam as estradas e recomeçam o cíganísmo ...

Notas:
1 - De rede-nas-costas : dizem do trabalhador nômade que anda nas estradas à procura de serviço.
Quando em viagem o sertanejo conduz sua muda de roupa enrolada na rede, a tiracolo; daí a
designação.
2 - Caçar ganho : procurar trabalho.
3 - Pegadas do inverno : início das chuvas e do ano agrícola.
4 - Fobó : o mesmo que forró, arrasta-pé, samba.
5 - Piolho : Indivíduo que sempre está presente a determinada ação; é, naturalmente, uma forma
figurada do parasita.
6 - Dar de mamar a enxada : folgar, malandrar em serviço; alusivo ao gesto de descansar com o
cabo da enxada apoiada no sovaco. 


Fonte :  Cassacos / Oswaldo Lamartine de Faria in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


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