Nem
sempre, porém, o que se apresenta assim é o melhor vaqueiro, é o que
pratica maiores façanhas. Dizem mesmo entre eles: "vaqueiro encourado
de novo não vale nada - tem medo de rasgar o couro". E se ele já possui
esse material durante muito tempo, duas, três vaquejadas, sem estrago
nenhum, é sinal, mais do que evidente, de que não é lá grande coisa ...
E assim se justifica que quanto mais esfarrapado - tanto melhor... O
vaqueiro não teme o arranha-gato, o juá-mirim, a jurema, o serrote, o
cansanção de boi, o quiabento, (que possui um dos espinhos mais
perigosos). Já se disse, com muito acerto: "onde passa a rês perseguida
passa o vaqueiro e o seu cavalo". Ora virando de um lado, ora de outro,
na sela; um pé apoiado no estribo, inclina-se para a frente, tendo as
rédeas de sedém numa das mãos, na outra o chicote ou o ferrão;
firmando-se
algumas vezes, na crina do animal, uma perna apenas
apoiada na sela, o resto do corpo paralelo ao corpo do cavalo, a cabeça
encostada, de lado, ao pescoço deste. Corre o cavalo a toda brida,
qualquer que seja o campo: aberto ou fechado, e o terreno enxuto ou
lamacento. Entra no mato sem procurar "claro" e sem desviar do
obstáculo, contanto que não perca de vista a novilha arisca ou o
garrote bravio ou o touro de "cupim dobrado". Cumprida vitoriosamente a
missão, trazida ao rebanho a rês que "espirrou", o seu contentamento se
torna manifesto. Comenta com os parceiros a refrega da qual escapou
incólume, sem um arranhão, sem nada. .. Cada remendo é uma história a
enriquecer-lhe o sempre pródigo exagero, porém com muita realidade. O
cavalo amestrado, sabe voltar na "ponta dos cascos", mudando de direção
à mais leve pressão das rédeas.
Poderá a vaquejada demorar uma
semana, quinze dias, um mês. Nesse período todo o gado é revisto,
apartado, separado, selecionado: vacas defeituosas ou velhas ficam
presas para a engorda ou venda; lotes de bois, separados por idade,
serão objeto de negociações com boiadeiros que os arrastarão, em longas
caminhadas, para o sacrifício no mercado de Feira de Santana. (Mais de
um autor já se referiu às boiadas e aos boiadeiros, título sugestivo
para uma obra de vulto, retratando todo um aspecto da vida, no norte do
país). Marruás que são transformados em marrueiros e garrotes em bois
... E por fim a ferra, a assinalação dos bezerros apanhados durante o
ano. É interessante notar que pelo sinal feito na orelha da criação o
vaqueiro sabe a idade de todo o gado da fazenda: um mesmo sinal
repetido em períodos certos; canzil, forquilha, canto de porta, buraco
de bala, etc.
A medida que o gado é separado vai sendo solto,
devidamente assinalado - tosada a ponta da cauda ou sedenho -
salvo-conduto que o livrará de nova prisão, Muitas reses nunca viram
curral e em torno destas gira toda a festa da temporada.
Serão
batidas, dominadas, derrotadas, lançadas, trazidas ao rodeio, custe o
que custar. E justamente aí será demonstrada a perícia do vaqueiro:
quanto mais bravia a rês tanto maior o seu feito e o seu
triunfo.
Nota
: Infelizmente, mesmo sendo um patrimônio cultural, acredito que devia
se manter apenas a primeira parte: a do aparte, seleção, etc. E
deveriam ser proibido a tortura e a matança em rodeios.
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